Um bocado de coisas, certamente, mas não adianta prometer sem provar. Se não der para provar, e prova é uma palavra quase inaplicável em filosofia, quem sabe será possível convencer a que todos nós prestemos mais atenção nas questões propostas pelos filósofos e nos textos que escritos por eles.

 

É comum, nos livros de introdução, insistir que a filosofia é um esforço para pensar um pouco mais, para refletir sobre aqueles pontos cuja verdade damos por suposta e acertada. É uma boa definição que esclarece, sem esgotar, o sentido da filosofia. Um exemplo? Pode ser a ideia de imaginação, o modo como usamos essa expressão no cotidiano. Não poucas vezes, para não dizer quase sempre, a palavra imaginação é associada por nós a uma espécie de saída ou retirada da realidade. Ou ainda como algo menos que real.  Muito imaginativo é alguém cuja conversa pode ser atraente, mas permanece distanciada daquilo que conta, o tal real. Outras vezes imaginar é recordar mentalmente algo que já vivemos, por exemplo, a praia de férias inesquecíveis  ou algo que desejamos mais à frente,  uma viagem a Portugal.

 

A imaginação não teria a seriedade da razão, que está sempre disposta a apontar as coisas tais como são e não como gostáramos que fossem. Usamos a expressão assim e às vezes esse uso dá conta do que estamos vivendo. Mas nem por isso devemos tomar um uso específico pela totalidade do significado que um termo encerra. Imaginação pode ser mais do que isso, pode ser bem diferente disso. Uma obra de arte, a Noite Estrelada de Van Gogh, uma teoria científica, a mecânica newtoniana, uma obra literária, o Dom Casmurro, a hipótese freudiana do inconsciente, não são exercícios de imaginação?  Você discorda? Veja o argumento.  Certamente nenhum desses exemplos pode ser observado diretamente, nenhum é uma espécie de cópia ou retrato de algo que observamos. Capitu não anda por aí, a gravidade não pode ser vista, as noites que vemos não parecem em nada com a de Van Gogh e nem encontramos o inconsciente numa esquina qualquer. Portanto, cabem na ideia de imaginação como algo irreal, algo a que falta o peso do real.

 

Será assim? Que são atividades da imaginação, todos concordamos. Mas a discordância terá início quando percebermos que estamos diante de 4 instrumentos, cada um  a seu modo, decifradores da realidade. Descortinam um excesso de realidade que uma visão estreita ocultava. Sem o exercício da imaginação, permaneceríamos atados a essa fração diminuta da experiência que confundimos tão equivocadamente com o real. Não é despropositado, e nem contrário à nossa experiência, lembrar que sem a imaginação, essa aparente louca na casa da razão, a nossa presença no mundo e o próprio mundo estariam severamente empobrecidos.  

 

Vez por outra, não vale a pena nos voltarmos para uma discussão em filosofia?

 

Ricardo Fenati

Equipe do site