Em algum texto Kierkegaard, o filósofo e teólogo dinamarquês, nos lembra que a alma é conquistada pela paciência. E paciência, como sabemos, é acolhimento, espera, tempo que passa lentamente. Muitas vezes, apressados como tendemos a estar nos dias que correm, exigimos que tudo se esclareça mais rapidamente, que basta encontrar as palavras e a realidade nos será entregue. Às vezes é assim, mas não sempre, e nunca nas questões e nos momentos mais decisivos da vida.
Paciência é espera, mas não só. Não é como uma viagem longa que suportamos. Numa viagem assim, sabemos onde chegaremos e quando chegaremos, mesmo com eventuais atrasos. E mais: ao longo do caminho, vamos confirmando o itinerário. A paciência de que fala Kierkegaard, a paciência necessária à busca da alma, é outra, assemelha-se mais à paciência da semente, que antes de vir à luz, tem sua hora longa de incerteza sob a terra. Não é o movimento de um lugar a outro, mas uma descoberta, quase um nascimento. Mas é verdade que não estamos habituados a esse ritmo, que começa sempre pela partida, pelo abandono, pela passagem, como diz o Evangelho, à outra margem. E nessa hora, mais do que um esforço, cabe a nós, apesar do medo, acolher a confiança naquilo que, silenciosamente, opera-se em nós e que chamamos de alma.
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
11.11.21