O presépio de Belém — O Fato

O anjo anuncia a uns pastores uma Boa-Nova que será alegria para todo o povo: “hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo, o ungido do Senhor. Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura”.

O presépio de Greccio — O Símbolo

Na noite de Natal de 1223, pastores, gente comum e nobres de Greccio, celebram a Missa, organizada pelo frei Francisco numa gruta, com um boi, um burro, uma manjedoura e dentro dela a imagem do Menino. Francisco canta o Evangelho e no sermão fala do pobre rei a quem chama de "o menino de Belém". São Francisco de Assis inventa o Presépio.

Uma invenção que é o seu maior protesto, suave e silencioso, contra uma sociedade e uma Igreja que usam a Cruz de Cristo como bandeira para as Cruzadas: guerra para conquistar os lugares santos. Igreja e sociedade que esquecem o valor da ternura e abraçam as armas para obter glória e fortuna.

Até mesmo a Ordem dos Frades Menores, fundada por Francisco, está em discórdia a respeito da vida de pobreza mais ou menos rigorosa que os frades devem observar.

Francisco faz uma revisão no documento de constituição da Ordem e obtém a aprovação do Papa, mas a discórdia não é de todo superada. Ele renuncia à liderança da Ordem, para permanecer seu pai espiritual.

Um Francisco, portanto, que é provado interiormente e sua resposta é a invenção do presépio, trazendo de volta a verdadeira dimensão do Natal: o novo, o simples, a ternura, a paz, o amor. O presépio proposto por Francisco é simplesmente o boi e o burro, porque no imaginário coletivo da época o boi e o burro representavam dois grandes povos que a Igreja e a sociedade combatiam: os judeus e os muçulmanos. Mas Francisco nos diz que Jesus veio para todos.

Outra hipótese é que tenha se inspirado em Isaias que coloca o boi e o burro como as figuras principais das primeiras linhas de sua profecia: “O boi conhece o seu proprietário, e o burro a manjedoura do seu senhor; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende” (Is 1,3).

Jesus veio para todos. Eis porque a gruta do presépio não tem porta, como um coração é chamado a não ser parafusado, com barras, acorrentado, mas aberto, livre, capaz de acolher e emanar todas aquelas energias vitais, aqueles sentimentos extraordinários que o Natal nos sugere.

Nosso presépio: Belém é aqui — Hoje e todos os dias

Hoje nos presépios, cabem todos os ofícios, ou seja, toda a nossa vida está ali representada. E, no contexto de guerra em que vivemos, nos diz da preciosidade deste dom tão importante: a Paz. Convida-nos a estar, dia após dia, perto dos que querem esta Paz e não a podem viver, como os que sofrem as agruras da guerra, o flagelo da fome e do desemprego, a amargura de opções políticas que levam ao totalitarismo, o absurdo das nossas lutas interiores movidas pela egolatria. Jesus veio menino, para nos lembrar que podemos renascer a cada dia, construindo novos futuros para nós e para todos os seres.

O presépio nos recorda que Natal é “noite nova de antiguidade”, é “animação para surpresas, tintins tilintos, laldas e loas!” — PAZ!

Ildeu Geraldo de Araújo

Natal de 2023