Pena que o filme – Silêncio – tenha ficado tão pouco tempo em cartaz. Não faz mal, se não possível acessar o filme, o livro está disponível e sua leitura favorece a discussão de um bocado de temas. Por exemplo, o cotejo de civilizações em tudo distintas: visão de mundo, crenças e costumes. A convivência, para não dizer o encontro, é mesmo possível? No caso trata-se da presença do cristianismo no Japão dos séculos 16 e 17, acolhida de início e, em seguida, objeto de uma perseguição tenaz. Culturas são mesmo mutuamente excludentes ou é possível que esses encontros sejam marcados por uma dosagem adequada que evite tanto a reiteração da mensagem original como a sua completa diluição? É melhor garantir formas de proteção que mantenham intactas as culturas originais ou deve ser buscado algum terreno comum que, habitado pelas culturas em questão, não seja esgotado por nenhuma delas? Costumamos aceitar a convivência entre culturas quando se trata de temas onde as diferenças não são significativas, o que costuma ocorrer, por exemplo, no campo das ciências da natureza ou nas tecnologias. Nesse caso, o esforço de aproximação é quase desnecessário, visto não haver, ou quase, qualquer singularidade. Mas não é verdade que a aproximação seria mais desejável justamente a partir dos campos onde, de início, a diversidade é mais acentuada e as diferenças  mais significativas? Não é aí que é provada nossa capacidade de escuta e aprendizagem? Não me parece haver, no longo prazo, uma alternativa, mesmo porque a mera reafirmação da diversidade desemboca não poucas vezes, como sabemos, na indiferença. Mas essa é apenas uma das questões que justificam, com sobras, ver o filme e ler o livro. Das outras, de algumas delas, trataremos a seguir.  

Ricardo Fenati

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