Na coluna anterior - dê uma olhadinha no site do Centro Loyola -, depois de reconhecer a dimensão ética que acompanha a existência humana e, conseqüentemente,  insistir na importância dos valores, lembrávamos que valores,  mesmo quando são reconhecidos como mais preferíveis, não são tudo. O que isso quer dizer? Colocar-se do lado de valores como justiça social ou tolerância, sempre preferíveis à injustiça ou à  intolerância, não basta para viabilizá-los. Não caminharemos muito se não compreendermos bem que fatores levam à injustiça ou que causas podem ser associadas à intolerância. E certamente isso é um trabalho mais difícil e demorado.
 
 
Depende de análises, de cotejos, comparações e assim por diante. Desejamos uma sociedade mais tolerante, esse é o valor de que partimos, Sem esse desejo, a intolerância continua a se fazer presente, portanto, ao preconizar a tolerância estamos diante de um bom ponto de partida. Aí começa o trabalho: que fatores sustentam a tolerância? A tolerância deve ser generalizada? Em que circunstâncias, ainda que raras, alguma intolerância é a forma de garantir mais tolerância? A tolerância é um valor que se estende da mesma maneira a todas as áreas? Tolerância no campo das artes? Tolerância no campo das ciências?  Tolerância e indiferença não são perigosamente próximas? A tolerância cabe, sobretudo, no domínio da vida privada? Há algum risco de que uma defesa generalizada da tolerância desestimule empreendimentos mais coletivos, mais pactuados? Como se vê, valores são pontos de partida indispensáveis, mas desacompanhados da reflexão podem perdem muito de sua eficácia. 
 
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola