O ateísmo está na moda ou, mais exatamente, luta para estar na moda uma vez mais. Chegou com uma virulência renovada, que se expressa tanto através dos meios habituais como, e aqui está uma novidade, por meio de inúmeras comunidades virtuais. Em resposta a este retorno beligerante, os que crêem não deixam por menos e buscam replicar, com igual ferocidade, os ataques ateístas. Sem demora, verificaremos que se trata de muito barulho por quase nada. Isto porque, na verdade, é uma controvérsia assentada em clichês de parte a parte e clichês, como sabemos, servem para nos dispensar do trabalho de pensar. Negando a existência de Deus, os ateus entendem ter encerrado o debate sobre questão religiosa.
Por sua vez, os que crêem insistem na existência de Deus e com isto imaginam, equivocadamente, ter retirado a plausibilidade do ateísmo. Ambos, crentes e ateus, passam ao largo do que importa compreender melhor: a espessura propriamente humana da experiência religiosa, que é o único ponto de partida conseqüente. Mas sejamos otimistas: a reentrada em cena do debate, mesmo que, por ora, mal conduzido, é bem melhor do que a indiferença anterior. Postas em discussão, crença e descrença podem fazer parte do espaço público, migrando para fora da invisibilidade do espaço privado a que estavam relegadas.
E mais: precisamos do debate para ganhar clareza sobre nossas posições e torná-las mais sólidas. Lá atrás, na sua aurora a articulação doutrinária do cristianismo em muito se beneficiou do enfrentamento de posições adversas. Talvez estejamos, hoje, em meio a um cenário equivalente. Portanto, mãos à obra. Mesmo porque, por vezes, parece que os ateus sabem mais o que atacam do que os cristãos sabem o que defendem.
Para pensar na quinzena:
“De dois homens que não tiveram a experiência de Deus, o que o nega é talvez o que está mais perto dele”. (Simone Weil)
Ricardo Fenati
15.04.2012