Procure, quando puder, por Um Livro de Horas, editado em 2007. Trata-se de uma seleção dos poemas de Emily Dickinson, traduzidos e ilustrados por Ângela Lago e publicados pela editora Siciliano.

Livros de horas, uma antiga tradição, reúnem textos de natureza devocional que, socorrendo-se da espiritualidade, debruçam-se sobre as inevitáveis estações da existência. Horas há em demasia, entre tantas outras, as da alegria, as da tristeza, as do enigma e as do amor. E ao nomeá-las com delicadeza e profundidade nos textos aproximamo-nos um pouco mais de nós mesmos. Lançando mão agora da poesia, Ângela Lago enriquece a tradição. Lembra que “Desde menina costumo declamar poemas na hora de aflição. Deus, que vive em toda parte, lá no fundo de mim, escuta. E me dá de imediato o conforto da beleza”.

Nesses tempos em que a linguagem parece confinada seja pelo pragmatismo do dia a dia, seja pela violência da certeza, é da poesia que podemos lançar mão se não quisermos perder de vista a existência propriamente humana que, nas suas horas mais significativas, transcorre em alto mar. Despossuídos da poesia, perderíamos a carta de navegação.

E para a hora da verdade no Livro de Horas:

 

“Fale a verdade toda, mas fale de viés.

No rodeio está o sucesso.

Para nossa frágil felicidade,

A surpresa da verdade brilha em excesso.

 

Como o raio que por bondade,

Alguém explica a criança que se assusta,

Deve brilhar pouco a pouco a verdade,

Ou todos seremos cegos à sua custa”  

 

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola