O que mesmo que nos impede de tomar a sério nossas reclamações sobre o atual formato do Natal? A julgar pelo que ouvimos, não estamos, não digo entediados, mas entristecidos, com a perspectiva do Natal que se aproxima? Não é preciso abrir mão dos presentes, mas não caberia, também, na noite de Natal, que é mais alongada, que nos aventurássemos a ensaiar uma comunidade, ainda que momentânea? E o que faz de um ajuntamento de pessoas uma comunidade? A palavra trocada, as histórias compartilhadas, o interesse pelo outro, a delicadeza da escuta, a alegria da solidariedade.
A noite de Natal com as pessoas em volta de uma mesa é uma reiteração, nos nossos tempos, de um costume imemorial, perdido na noite dos tempos, a refeição em torno de uma fogueira capaz de aquecer os corpos e de histórias, contadas e ouvidas, capazes de aquecer a alma.
Afastados os papéis que a vida cotidiana nos leva a desempenhar, não poderíamos, dessa vez, partilhar nosso destino comum, o de homens e mulheres comovidos e perplexos diante da imensidão da vida?
Para a noite de Natal:
“ É verdade que à mesa não nos alimentamos apenas ao mesmo tempo e dos mesmos alimentos. Alimentamo-nos uns dos outros. Somos uns para os outros, na escuta e na palavra, no silêncio e no riso, no dom e no afeto, um alimento necessário, pois é de vida ( e de vida partilhada) que as nossas vidas se alimentam”. (José Tolentino de Mendonça)
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola de BH