Já é quase um lugar comum dizer que a filosofia se interessa mais por perguntas do que por respostas. Pode ser, até porque, percorrendo a história da filosofia, encontramos pouca concordância em torno das respostas ali disponíveis. Em outras áreas, na vida cotidiana ou nas ciências, por exemplo, dispomos de respostas satisfatórias, mesmo que reformáveis com o tempo. Talvez o mundo seja mesmo assim, mais claro aqui, mais enigmático ali. E só erramos quando insistimos em confundir os planos, deixando de lançar luz sobre o que pode ser esclarecido ou querendo clareza onde a penumbra não tem como ser afastada.

Acolhendo a face enigmática do universo, percebemos que não somos senhores de nossas questões. Contrariamente ao que Marx disse um dia – a humanidade só põe questões que pode resolver -, somos excedidos pelos problemas que nos atravessam. E não é o caso de dizer que eles estão além de nossas forças, que caem sobre nós como um fardo desconhecido, originários de uma fatalidade que nos ignora, constrangendo-nos a um inevitável mutismo. Fossem assim estranhos, absolutamente estranhos a nós, não nos ocupariam. Não os dominamos, é certo, mas não nos interessariam e, mais, não nos angustiariam se, de algum modo, não nos reconhecêssemos nele. Essa sombra que envolve toda luz, esse silêncio que envolve toda palavra, talvez sejam, menos do que um obstáculo a temer ou uma realidade a negligenciar, uma Terra a que, também, pertencemos. Não podemos responder às questões – elas nos excedem -, não podemos deixar de colocá-las – a elas pertencemos. Não é um destino insignificante, não é uma maneira equivocada de reconhecer a prioridade das questões na filosofia.

 

Para pensar na quinzena:

“Sabemos muito para sermos céticos, sabemos pouco para sermos dogmáticos (Pascal)

 

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola

01.07.2013