Teria escrito mil vezes teu nome na areia,

não fosse teu nome matéria em que meu coração se dissolve.

Mistério infinito do mar-espelho.

 

Amar é espelho do infinito.

Amar é mistério de areia.

 

Areia é matéria fluida, efêmera.

Areia é minério talvez eterno.

 

Este grão que penso reter nas mãos

amanhã mesmo o oceano levará.

Nunca saberei de que silício ou cecília

é feito.

 

Não saberei onde se quedará meu coração de areia:

em doces praias ou voragens,

rochas ou abismos.

 

Abismo sou agora, sem nome e sem pouso

E a matéria areia, fugaz e eterna,

dolorida e bela,

me consome.

 

Ana Cecília de Sousa Bastos
   in Contemplação do mar
      Confraria do Vento, Rio de Janeiro, 2022

imagem: pexels.com