Saio do sonho, da noite, do absurdo:

sou navegante que aborda o limite humano,

espuma breve.

Meus vestidos são de uma tristeza total:

da frágil superfície ao denso forro,

profundo mar.

Pergunto-me por que venho

e por que venho assim vestida:

- é dos lugares do sonho, da noite, do absurdo?

- é do limite humano a que abordo,

séria e inerme?

Entre os dias humanos

e a noite ex-humana

que mensageiro acaso somos?

A que destinatários?

em que linguagem?

que mensagem?

Ó noite, ó sonhos, ó absurdo

onde, no entanto, fluíamos, claríssimos!

 

Cecília Meireles

In: Poesia Completa