“Vivi, olhei, li, senti...

Terás então de ler de outra maneira,

Como, Não serve a mesma para todos,

cada um inventa a sua, a que lhe for própria,

há quem leve a vida inteira a ler sem nunca ter conseguido ir

mais além da leitura, ficam pegados à página, não percebem

que as palavras são apenas pedras postas a atravessar a

corrente de um rio, se estão ali é para que possamos chegar

à outra margem, a outra margem é que importa,

A não ser, A não ser, quê, A não ser que esses rios não tenham

duas margens, mas muitas, que cada pessoa que lê seja, ela,

a sua própria margem, e que seja sua, e apenas sua,

a margem a que terá de chegar.”

 

José Saramago,

in A Caverna