A TERRA PLANA (José Miguel Wisnik)

a terra não é plana

a terra não é chata

contra o silêncio dos espaços infinitos

desfilando seu bloco, seu magma, seu ar e seus mares

entre rastros luminosos de corpos distantes

buracos negros estrelas desgarradas

aqui, no meio do nada

a terra plana

a terra plana

a terra plana

redondamente certa,

plana no universo deserto curvo e dilatado

sem planos nem enganos, paira soberana

entre todos os astros calculados

pois ela leva gente sob os sóis

para nós só ela leva gente

só ela comparece povoada de viventes

parece um balão de gás

enquanto desenrola seu show de bola

até agora no universo indiferente

só ela e ela só

é o ovo e o voo

só ela e ela só

é o voo e o ovo

o óvulo

ululante

e que não seja o ovo da serpente

chocado por gente chocada renitente

querendo a todo custo que ela seja chata

a terra não é plana

a terra não é chata

a terra simplesmente plana

carregando o peso da ganância que a maltrata

dançando em ondas com os astros

seus parceiros mudos

abraçando em círculos o centro que lhe escapa

sem um chão que não seja o seu

sem um chão que não seja o céu

sem um chão que não seja o céu

sem um chão que não seja o seu

coração

 

Linda música, pura poesia! 

O olhar do poeta para a terra e a delicadeza em abordar os abusos em relação ao planeta!

Maravilhosa!

 

Equipe do site

31.10.2020