Tua Cantiga (Chico Buarque)
Quando te der saudade de mim / Quando tua garganta apertar
Basta dar um suspiro que eu vou ligeiro te consolar
Se o teu vigia se alvoroçar/ E, estrada afora, te conduzir
Basta soprar meu nome com teu perfume pra me atrair
Se as tuas noites não têm mais fim / Se um desalmado te faz chorar
Deixa cair um lenço que eu te alcanço em qualquer lugar
Quando teu coração suplicar ou quando teu capricho exigir
Largo mulher e filhos e de joelhos vou te seguir
Na nossa casa serás rainha / Serás cruel, talvez
Vais fazer manha me aperrear e eu, sempre mais feliz
Silentemente vou te deitar na cama que arrumei
Pisando em plumas toda manhã eu te despertarei
Quando te der saudade de mim / Quando tua garganta apertar
Basta dar um suspiro que eu vou ligeiro te consolar
Se o teu vigia se alvoroçar / E, estrada afora, te conduzir
Basta soprar meu nome com teu perfume pra me atrair
Entre suspiros pode outro nome dos lábios te escapar terei ciúme até de mim
no espelho, a te abraçar
Mas teu amante sempre serei mais do que hoje sou
Ou estas rimas não escrevi nem ninguém nunca amou
Se as tuas noites não têm mais fim /Se um desalmado te faz chorar
Deixa cair um lenço que eu te alcanço em qualquer lugar
E quando o nosso tempo passar quando eu não estiver mais aqui
Lembra-te, minha nega desta cantiga que fiz pra ti
Esta música é a última faixa do CD Caravanas de Chico Buarque.
Sob a aparente simplicidade, se esconde uma canção sofisticada poeticamente — na forma que cruza rimas "falsas" (nome/ perfume, nega/ cantiga) e referências a um soneto de Shakespeare nos versos finais e a Chapeuzinho Vermelho de "estrada afora" — e musicalmente — em sua estrutura de lundu ternário.
"Tua Cantiga" é uma linda incondicional e melancólica canção de amor, bem presente na obra de Chico.
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