Itália – 2004 -(1h 46min)
Diretor: Ferzan Özpetek
Quando algo novo adentra nossa rotina, podemos olhar melhor para o que nos está acontecendo. Um velho sem memória e sem desejo interrompe a discussão estéril do casal, repetida dia após dia...
Quando nos abrimos para uma relação de ajuda, para acompanhar o próximo em seu mundo perdido e sem nome, podemos olhar melhor para o que nos rodeia e para a vida que vivemos. O velho observa o que acontece, dá sugestões, aponta o detalhe de uma água na mistura de um bolo, convida para dançar, não aceita um suéter pela cor, questiona o trabalhar sem vontade, mostra a qualidade do pai das crianças...
Quando se interrompe a seqüência do cotidiano; quando nosso olhar vai para além de nossas próprias questões costumeiras e comezinhas, podemos descobrir que estávamos perdendo a dimensão dos nossos desejos e do valor das relações próximas. Ela começa a levar em conta o que o velho diz, observa seu mundo e pergunta-se o que ele viveu e passou... começa a dar-se conta de que outras vidas têm sentido e são resultado de ideais e de amor a uma causa... como já lhe mostrava a vida de sua própria vizinha...
Infeliz é a relação no casamento? Pode até ser, mas... Ou infeliz é a relação que se estabeleceu consigo mesmo? Por força da rotina, dos temores e da maquinal execução de tarefas diárias, pode-se acabar acreditando que é “o outro” que nos atrapalha e inferniza a vida.
Infeliz é o trabalho repetitivo? Pode até ser, mas... Ou infeliz é não ter corrido o risco de buscar o sonho, insistir nele e acreditar em si mesmo?
Foi porque o marido acolheu o velho perdido;
Foi porque ela passou a observar o que se passava com o velho;
Foi porque as crianças mostraram aceitação e aproximação do desconhecido;
Foi porque o vizinho achegou-se a ela através do velho...
Foi por tudo isto que as modificações foram acontecendo... Mas, foi sobretudo porque todos se emocionaram com a vida que se passa e vai além das aparências, mostrando a existência de emoções e sentimentos que moldaram a luta por um ideal, a luta por um amor, a busca do sonho e do direito de escolha do amor, qualquer que seja ele. Quando ela e o vizinho se envolvem para decifrar a vida que o velho vivera...
Quando o velho pôde ser visto e reconhecido em sua própria história, pode brindar a todos com seu bem maior: o dom da mão que dá sabor e forma ao alimento. E ofertou ao outro o melhor de si, por ter recebido a oportunidade de ser quem era e é! E a gratidão se mostrou no alimento para o corpo e para a alma, já que a estimulou a buscar seu sonho e vocação!
Olhar o vizinho e interessar-se por ele era acreditar que o melhor se passava fora dela e de sua vida. Ao descobrir-se observada também por ele, pode olhar sua vida a partir do olhar dele... descobrir-se!
A vida não se passa na “janela da frente”, mas dentro de nós mesmos! E o AMOR sempre em nós permanece, como marca indelével!
Maria Tereza Moreira Rodrigues