Diretor: Noah Baumbach –
EUA
Importante contextualizar o filme: sociedade americana, liberdade sexual, emancipação feminina, separação dos pais com guarda compartilhada. Penso que são pais comuns, que trabalham e são interessados pelos filhos. Não estamos frente a uma família desestruturante, com pessoas extravagantes ou perversas.
Se não somos ainda pais, sempre somos filhos. Assim sendo, qualquer filme que trate do relacionamento entre pais, pais e filhos e irmãos-irmãos, vai sempre nos afetar, mais e menos, conscientemente ou não. Não se entra e sai impunemente de uma sala de cinema. Se assim é, acredito que alguns pontos de reflexão lhe vieram à mente. Por isso, junto aos seus, os meus. Quem sabe aumentamos nossa sensibilidade ao que estamos vivendo, ao que não queríamos ter vivido e ao que não queremos perpetuar. Pensemos juntos:
1. O que se espera do companheiro (a) quando se casa?
2. Como lidar com a frustração decorrente de o companheiro não permanecer igual ao do início do relacionamento? Quem mudou? O que mudou quem?
3. Como aceitar as mudanças de um ou de outro? E das próprias circunstâncias concretas e materiais do dia-a-dia?
4. O que fazer quando é o homem que diminui seus ganhos e a mulher aumenta os seus? Some-se a isso a queda da imagem anterior contrapondo-se à realização pessoal e profissional do outro.
5. Os pais estão cuidando dos filhos ou apenas disputando entre si? O problema do casal conjugal misturando-se às questões do casal parental. Fundamental distinguir o que é conjugal do que é parental.
6. Filhos: qual se parece com quem? Disputa entre os pais a respeito deles e disputa dos filhos entre si, numa busca de quem fica melhor com quem.
7. O filho adolescente: em sua busca amorosa confunde-se com a do pai e a da mãe e reflete os conflitos conjugais dos mesmos.
8. O filho pré-adolescente mostra sua inquietação frente ao que não consegue entender e nem mudar. Um pedido de socorro e um alerta aos pais estão embutidos no seu comportamento auto-destrutivo. A bebida e a masturbação surgem como forma de aplacar a dor e diminuir a ansiedade. O sêmen esfregado na prateleira de livros é marca de existir, de ser homem e produtor de ação.
9. A mãe teme não encontrar sua realização amorosa e profissional; excede-se nessa busca e perde a observação do dia-a-dia dos filhos.
10. O pai, desqualificado como parceiro e profissional, põe-se a olhar e a buscar jovens alunas, numa auto-afirmação até sobre o próprio filho jovem. Este, por sua vez, revida com outra farsa: toma como sua, a composição musical de outro.
TUDO PODE VIRAR UMA FARSA!
Mas, há uma luz: a lembrança de um encontro genuíno: numa tarde qualquer, no Museu de História Natural, mãe e filho a olhar “A lula e a baleia”. Na busca de sua história, ele pode voltar a este ponto de origem e recomeçar...
Sempre há a possibilidade de reparação e de recomeço. Basta olhar!
“O singular faz laço e tem potência transformadora”.
Maria Tereza Moreira Rodrigues
Psicanalista e da Equipe de Espiritualidade Inaciana.