Diretor: Paolo Virzi
Itália, 2010
Quando comédia e tragédia se entrelaçam, e a vida mostra-nos suas facetas. Temos muito a agradecer à sensibilidade com que diretor e roteirista conduziram a trama das relações nesta família, que hoje seria chamada de “disfuncional”, assim como agradecer a imparcialidade com que trataram os problemas centrais das personagens principais: mãe e filhos.
Escrevo em nome de todas as mulheres, e para elas; mas sobretudo para aquelas que são mães e que, por uma razão ou outra, foram “deixadas” por seu companheiro, e terminaram sendo as “cuidadoras” de seus filhos, com pouca ou quase nenhuma participação do pai de suas crianças.
Por que ficaram sem seu companheiro? Importa a razão pela qual foram deixadas?... Claro que importa, pois o desfecho de um relacionamento tem total relevância sobre os problemas e dificuldades que virão. E também determina a maneira como irão reagir as pessoas que circundam este pequeno grupo mãe-filhos. E se ao desfecho ainda ficam associadas razões chamadas de “ordem moral” e “mau comportamento”, e sobretudo se forem atribuídas à mulher (sobretudo não! Só as mulheres serão “apedrejadas”!)... ai, ai, ai, ai ai! Aí será então muito mais difícil!
As pessoas não pouparão críticas (veladas ou não) e nem se disporão a ajudar, havendo o risco inclusive, de a mulher ter que “pagar um alto preço” caso receba ajuda, e sobretudo se for masculina! Enfim... por que falo isso? Porque acredito que muita gente saiu “incomodada” do cinema, e pensando no quanto aquela mãe havia mesmo errado muito... Afinal! Veja só! Ela se “exibia” tanto!... Ah! Céus! Como se mãe que “não se exibe” acerta todas!
Há sempre que pensar em quem é que pode “atirar a primeira pedra”. De qualquer forma, penso que esse filme não é um “retrato dos erros”, e nem um tratado sobre o efeito psicológico nos filhos, do comportamento dos pais, embora navegue por todos esses vieses. A exuberante, e às vezes ingênua, sensualidade da mãe, as turbulências vividas no cotidiano dos filhos, as evidentes dificuldades emocionais daí decorrentes no filho Bruno, o casamento precoce da filha Valéria. O bonito deste filme é que ele trata justamente da Prima cosa bela... E qual seria essa Primeira coisa bela? Mesmo que soe piegas, só posso pensar que é o AMOR. E é ele o grande protagonista do filme, fio condutor dos desdobramentos e reações das muitas pessoas e cenas, principalmente na personagem do filho Bruno.
Importante ressaltar a sensibilidade do diretor e do roteiro, e mostrar que nada e nem ninguém foi “demonizado”: nem o comportamento da mãe, nem a maconha do filho professor adulto, nem a relação extraconjugal da filha. Todos são pessoas frágeis, desencontradas de alguma maneira, mas sinceras e genuínas. O filme não privilegia os “certinhos”, e nem excomunga os “errados”. A irmã (tia das crianças), desde sua disputa pelo amor de um mesmo homem, tira “proveito” da situação, mas amargará suas dores. O marido que não consegue lidar com seu sentimento de ciúme e posse, e autoritária e covardemente elimina o que lhe dói (a esposa, em sua exuberância de mulher); mas, como “com a água do banho vai-se também o bebê”, ele “perde” a mulher amada; e essa dor o acompanhará e irá roer-lhe as entranhas. O mal, as más intenções (o beijo do asqueroso apresentador da vencedora do concurso), as intrigas (os comentários entre os colegas de escola do Bruno ou entre os funcionários de trabalho), as conveniências (o advogado e sua mulher: não teriam contratado como “barriga de aluguel” a mãe do Bruno?; e por que ela aceitou?).
Enfim... todos pagam um preço pelo que fizeram e viveram. Mas, o filme nos acena com a Esperança, e com a possibilidade de ainda haver tempo para: a reconciliação, o perdão, o enlace, o casamento entre os idosos e... por que não?... tempo até para um belo, romântico e libertador mergulho no MAR, deixando para trás o Bruno do tempo seco e solitário em um parque qualquer da cidade.
Maria Teresa Moreira Rodrigues
Psicanalista e membro da Espiritualidade Inaciana
15.10.2012