Sabe aquela premissa maior que muitas vezes ouvimos na vida de que “menos é mais”? Pois bem, a diretora Greta Gerwig traz em Lady Bird: A Hora de Voar uma estrutura narrativa bastante reduzida para desenvolver um tema tão complexo dentre noventa e quatro minutos de projeção, mas que é feita com extrema coerência e sensibilidade.
Na realidade, a história não é um tema novo, trata-se de uma adolescente que estuda em uma escola católica, não é tão popular, e seus pais enfrentam dificuldades financeiras, que tenta encontrar um futuro próprio. Pode até soar batida a trama, mas ao mesmo tempo tem originalidade, ousadia e carinho. Greta Gerwig, portanto, trás aquele tom realista, desconstrói estereótipos do cinema e cria uma narrativa própria.
Porque é impossível sair do cinema sem o espectador da geração Y se identificar com ao menos uma das experiências adolescentes que Catherine, ou o nome pelo qual ela insiste em ser chamada – “Lady Bird” (Ronan) – vive: o cabelo pintado; a rebeldia; os desejos emergentes; as novas amizades; as brigas com a mãe; os novos amores; a busca por identidade; a vontade de sair da cidade onde cresceu, entre outros dramas de uma menina de dezessete anos com personalidade forte. É uma jornada “coming of age”, ou seja, de amadurecimento. Aquele momento na vida em que estamos começando a dar os primeiros passos à vida adulta. Neste aspecto, a relação conturbada entre mãe e filha permeia tudo isso: enquanto Lady Bird quer se aventurar e ser dona de sua própria vida (mostrando esse lado mais idealista), é comovente assistir às reações que as atitudes da filha afetam Marion (Metcalf), sempre frustrada por não poder conceder à ela aquilo que ela quer, tentando fazê-la enxergar a realidade das coisas. Mas a mãe nunca deixa de ser o porto seguro da caçula da família, pois podemos observar os momentos de mais vulnerabilidade de Catherine nos braços da mãe, seja simplesmente para escolher roupa em uma loja seja ao cair aos prontos após uma decepção amorosa.
E Lady Bird: A Hora de Voar vai mais além. A protagonista se aproxima de personagens que acabam quebrando a sua ilusão em relação às pessoas ao seu redor, demonstrando a vulnerabilidade e as imperfeições de cada um, devido à pouca inteligência e maturidade emocional típica desta fase. Sua melhor amiga Julie (Feldstein) tem as melhores notas, mas tem poucas perspectivas; Danny (Hedges) parece o príncipe encantado, mas oculta um segredo sobre si mesmo; Kyle (Chalamet) e Jenna (Rush) fazem parte do grupo dos populares, mas são muito diferentes de Lady Bird. Contudo, ao final, é por meio deles que ela descobre quem ela é e quem ela quer se assumir ao ter que se esforçar por notas, ou ao acolher um ex-namorado em momento de necessidade deste. Dessa forma, essa é uma história na qual não há vilões porque demonstra novas facetas das pessoas para compreendê-las melhor, e mesmo pelo drama desenvolvido não há qualquer maldade ou perversidade nas adversidades. Ao contrário, todos os aspectos trágicos e sofrimentos que acontecem com a protagonista somente vêm para enriquecer a vida e seus aprendizados. É o tal do “mal que vem pro bem”.
É interessante também como a narrativa constrói a própria Catherine. Uma menina que acredita ser auto suficiente, madura o bastante para enfrentar o mundo, não sendo à toa inclusive a própria metáfora de seu apelido título do longa, ou seja, uma menina que deseja voar com as próprias asas. Mas sempre há alguém para lembrar que devemos olhar o outro lado sempre. O que nos também nos leva à sua insistência de pertencer a um lugar novo, de experimentar e de estar livre, mas sequer percebe sua conexão forte com Sacramento, sua cidade, representando essa ligação com nossas raízes e a solidão da independência.
Lindo, tocante, Lady Bird é um dos filmes mais sinceros sobre as maravilhas e as dores de crescer.