“O ÚLTIMO AMOR de MR. MORGAN” –
Direção: Sandra Nettelbeck-
Bélgica/Alemanha/França/EUA - 2013
“A morte é um dia que vale a pena viver.” - “Que eu esteja vivo na hora de minha morte.”
- Que seja possível a redenção!
Difícil escrever para vocês e para mim, depois de tanto tempo sem o fazer! Difícil! Mas, a música no final do filme,“Not too late” (Norah Jones), faz-me acreditar que “nunca é tarde”. E aqui estou! E este é o mote para começar a falar sobre Mr. Morgan e Pauline: “nunca é tarde” para viver o que é necessário e desejado, no momento e situação de cada um deles. E de cada um de nós!
Penso que podemos pensar e sentir o filme em duas grandes partes: 1. A solidão e 2. A redenção. A solidão pode nos alcançar, não importa em que idade, e em qual situação pessoal nos encontremos. A redenção faz-se necessária, sobretudo quando já temos mais anos de vida e, no mais profundo de nós, sentimos que é preciso “acertar contas” com nossa história e com quem a fizemos. Pois é, e mr.Morgan e Pauline encontram-se; ou melhor, buscam encontrar-se. Precisamos do encontro, pois é ele que traz algo do qual precisamos para que a vida se faça vida, e encontre sentido. E encontrar é reencontrar a afetividade, mola mestra da vida, que instala sentido e direção ao outro, único lugar possível para que alguém encontre a si mesmo. Assim foi com mr. Morgan e Pauline: dentro da solidão de cada um, o encontro recolocou afeto, direção e esperança. Mesmo que num primeiro momento fiquemos incomodados (como os filhos ficaram) com a diferença de idade, e com o que poderia vir daquele encontro amoroso, o fato é que a solidão foi aplacada, e a afetividade reinstalada. E com isso, a possibilidade de que em cada um deles pudesse emergir o que havia de melhor. Na dança da vida, pôde haver ritmo e cadência de passos: à jovem coube a energia e vitalidade, e ao idoso coube a estabilidade e objetividade. No entanto, no entanto... o temor sempre surge, inclusive e até porque, nada na vida é linear e “hollywoodiano”: o encontro também evidencia o que não temos, o que perdemos e não volta. Aí é quando as cartas na mesa da vida podem embaralhar-se, e o jogo vir a perder-se. É o que acontece com mr.Morgan: “La douceur assassine” (título do livro em que se baseia o roteiro do filme); ou seja, a retomada da doçura o intimida! E ele quer evadir-se do viver.
E é aí quando no filme, passamos para o que chamamos de 2ª parte: a redenção. Os filhos vêm ao encontro do pai, quando ele quase se “perdia” da vida, na vida. E o encontram imerso em uma “nova vida”! Temerosos e preconceituosos (como nós!), instam o pai a tomar decisão sobre os bens materiais, sobretudo o filho Miles, sensível à perda da mãe, e ao que se passava em sua vida pessoal. Pai e filho desentendem-se. Pauline tenta que entre eles se estabeleça diálogo, e retomada da vida em família, pois esse era o bem que ela mais desejava para sua própria vida. E esse era o bem que pai e filho tinham, mas não sabiam como materializá-lo (como vivê-lo), e perdiam-se em mútuas agressões sobre o que tiveram ou não fizeram, ao longo de anos. Muitas vezes, assim é a vida de tantos de nós: querelas insolúveis, dores reclamadas de um para outro, afetos não ofertados, embora presentes. Todavia, sempre presente é o desejo de reparação e redenção. No entanto, nem sempre é possível! E foi entre tentativas de acerto e erro, que os dois jovens Pauline e Miles, sem o planejarem, criaram a situação que propiciou a mr.Morgan o seu acerto de contas, uma reparação, sua redenção em vida. Ah! Como cada um de nós deseja a chance de redenção! Deseja a oportunidade de dizer o que não soubemos como expressar, o que nem sabíamos que nos habitava, ou o que não podíamos reconhecer como falha ou mesmo como possibilidade! Enfim... é com os nossos mais queridos que desejamos o reencontro. Desde a solidão de cada um, o desejo sempre é o do encontro e o da redenção. Só assim a morte pode ser um dia que valha a pena viver, nos fazendo sentir vivos nessa hora!
Maria Teresa Moreira Rodrigues
Psicanalista - Espiritualidade Inaciana -