“UMA  VIDA  ILUMINADA” – Everything is illuminated

Dir. Liv Schriber

“TUDO SE ILUMINA”Jonathan Safran Foer – Ed. Rocco

 

Trachinbold (assim?!): um lugar a chegar? Uma experiência a viver?

Viver de lembranças. Viver sem lembranças. Dois modos de vida.

 

Jonathan nos é apresentado através da morte de seus avós e de seus muitos objetos com histórias pessoais e familiares. Ele e seus olhos e óculos enormes a tudo colecionar, fixando o momento presente, receoso de que ele se perca no registro de uma memória “flácida”. Não há colorido e nem movimento. Ele está só e tudo é “rígido”, como seu corpo e seu caminhar.

 

Alex já nos é apresentado em pleno gingado, num mundo de cores e música, mas que não passa de um momento presente, fixo e estereotipado. Uma família “rígida”, dura, estática e impeditiva de emoções particulares. A irascibilidade está no ar e a agressão pode acontecer a qualquer momento, representada no cachorro do avô, seu “guia” para uma cegueira não física.

 

Alex leva Jonathan a encontrar o elo perdido da sua história familiar. Desde os tempos de seu avô, a família vive de levar outros a buscar suas memórias perdidas, numa busca “rígida”, pois não pode se perder nos obstáculos da vida e na travessia de relações, para chegar à ILUMINAÇÃO.

 

J. estava apegado aos objetos, para fixar uma existência, marcada por um elo desconectado de sua corrente: a mulher que salvara o avô de morte certa.  A. não se fixava em lembranças, porque preso a uma cadeia familiar enfraquecida por um elo geracional secretamente oculto: a morte certa que não aconteceu, e obrigou o avô a negar sua verdadeira identidade.

 

Valioso ver o que vai acontecendo com cada um, inclusive o cão, durante o trajeto. Os dois jovens e as duas culturas vão conversando entre si e apresentando suas peculiaridades e delicadezas. Ambos espontâneos, em suas diferenças. J. em seu jeito inseguro e amedrontado, mas determinado e cuidadoso. A. com seus preconceitos e curiosidade por um mundo desejado e idealizado; sua docilidade à dureza e agressão de sua família, num respeito intuído por algo que ele não alcançava e dizia: “Mas meu avô é boa pessoa”.

 

Os óculos escuros como o ponto cego da vida do avô: a impossibilidade de ver o que fora negado: sua origem. Sua iluminação quando foi se acercando da revelação que não mais poderia ocultar de si mesmo. O olhar doce e o carinho feito no rosto do neto. Tudo revelado, ele podia morrer. Esvaiu-se em sangue, num momento dramático de ressurreição, pois seguido da libertação de todos aqueles a quem amava, inclusive J..

 

A história recomposta passa a viver no presente e liberta a todos.

 

Não é apenas na chegada que tudo acontece e se ilumina; é durante todo o caminho. Irmã de Agustine: “não foram vocês que vieram atrás da história. É a aliança guardada que trouxe vocês até aqui”. É a aliança, a comunhão, o amor que nos leva até onde temos que chegar: uma casa interna, no meio de pequenas partes de nós mesmos, uma plantação de girassóis a buscar incansavelmente a Luz do Sol, a Luz do Amor para crescer e florescer em nós, seres de criação, relação, história, amizade e amor.

 

Maria Teresa Moreira Rodrigues

Psicanalista - Espiritualidade Inaciana – Campinas-SP