Autor: Manuel Hurtado

Editora: Paulinas

 

Nas últimas décadas, a reflexão teológica debruçou-se sobre a problemática da religião e das religiões. A explosão religiosa destes tempos pós-modernos fez aflorarem desde movimentos religiosos vagos, espiritualistas, com toques místicos, até tradições religiosas nativas deste continente ou vindas do Oriente e/ou da África.

 

A teologia cristã não poderia ficar indiferente a essa nova situação. O teólogo protestante inglês John Hick e os teólogos católicos Aloisius Pieris, Paul Knitter, Jacques Dupuis e Claude Geffré dedicaram estudos especiais a tão delicada temática, alargando os horizontes do diálogo. Afastaram-se tanto do exclusivismo católico tradicional, que interpretava quase literalmente o Extra ecclesiam nulla salus, como de certas formas inclusivistas, para adotar diferentes expressões pluralistas.

 

Este livro enfrenta precisamente tal tema, consciente de que este é extremamente atual e espinhoso. Ele situa-se entre os dois extremos da rigidez dogmática: aquele que evita todo diálogo com as outras religiões, desconhecendo-as como verdadeiras mediações de salvação, e o viés do pluralismo, que afirma serem todas as religiões igualmente salvíficas. Seu enfoque do problema privilegia o mistério da Encarnação, e visa explicitar a fé cristã de maneira intelectualmente honesta, em face das questões levantadas pelas demais religiões.

 

A honestidade não nos permite desconhecer a seriedade do problema, mas também não nos leva a demitir-nos de dar razão esclarecida da própria fé cristã, cristológica. Daí surge necessariamente a tarefa de repensar a teologia, trazendo-lhe novidades. Se a teologia permanecesse totalmente a mesma, não teria havido diálogo nem abertura. Mas também, se abdicasse de sua identidade e originalidade, haveria somente conversão e não encontro dialógico. Entre esses dois extremos passeia a reflexão teológica de Manuel Hurtado, ao se confrontar com as perspectivas de pluralismo religioso dos teólogos escolhidos para este diálogo.

 

O ponto fulcral desta reflexão assenta-se na cristologia, e particularmente na Encarnação. Trata-se menos de teologia do diálogo inter-religioso e antes de teologia cristã das religiões. O que importa aqui é que a fé cristã se exprima a si mesma diante do mistério da pluralidade das religiões. O primeiro destinatário não se localiza nas fronteiras das outras religiões, mas no interior da fé cristã, quando ele se debate com a pluralidade das religiões. A obra responde, portanto, à proposta anselmiana da fé que busca inteligência. Dessa forma, o autor evita entrar na perspectiva dos que pretendem sondar os desígnios de Deus com respeito ao mistério da pluralidade das religiões, ao levantar a suspeita de que tal pretensão excede os limites do teologar humano.

 

 

Equipe do site

15.11.2012