Livro "Das muitas formas de dizer o tempo"

Adri Aleixo e Lori Figueiró

Editora Ramalhete (2019)

Este trabalho reúne poemas de Adri Aleixo e fotografias de Lori Figueiró sobre o Vale do Jequitinhonha, com apresentação de Adriane Garcia e quarta capa de Mariana Ianelli. Transcrevo abaixo o comentário sobre o livro feito pela poeta Adriana Ianelli na sua página de facebook:

"Grande emoção de folhear “Das muitas formas de dizer o tempo”, livro com o qual passei as últimas horas da última noite de 2018 e entrei as primeiras horas da manhã do primeiro dia deste ano.

Releio agora cada poema de Adri Aleixo, revejo cada fotografia de Lori Figueiró, e, lá do interior mais sábio e simples da gente do Sertão, do fundo de olhos verdadeiramente humanos, na paz da casa onde mãos femininas ainda peneiram farinha ou moldam a pedra ou pintam bonecas ou debulham o terço ou fiam, no sol que ama paredes nuas, no fogo vivo com que se cozinha, tudo continua a pedir demora, cordialidade, contemplação.

Reproduzo aqui o texto que tive a alegria de escrever para a orelha, agradecendo aos artistas, poeta e fotógrafo, pela beleza genuína desse livro.

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Que tempo é esse, tão familiar e remoto? Que tempo é esse que enfeitiça a poesia de Adri Aleixo e quer se fazer sentir, ritualisticamente, em requadros domésticos de poucos (mas sagrados) elementos? Esse existir de uma casa, que da porta para fora se estende no corpo da terra, e da porta para dentro continua num corpo de mulher tão crestado e sábio quanto o chão. O sagrado aqui se traduz por necessário.

Mãe é uma forma de dizer o tempo, casa, câmara, arca, ela que guarda, zela, tece cuidados, reza, consola. Ela que vigia o fogo, molda o barro, acarinha a pedra. Ela que, a cada instante, a cada corpo seu debruçado sobre as coisas, compõe uma pintura de interior em gestos vivos. Gestos poucos, simples, litúrgicos, como são poucas as palavras, igualmente litúrgicas e necessárias, dessa poesia. E o calor da presença humana nas fotografias de Lori Figueiró, num sertão que existe num infinitamente agora transversal aos séculos: tão familiar e remoto.

Eis que certa duração corpórea dos dias ainda não foi extinta. Ainda há dessas casas, dessas mães, dessas palavras poucas que dizem de um calendário íntimo, pontuado por rosários, datas santas, banhos, gamelas, longas esperas e tentações de partida. Ainda há saudades dessas enraizadas no longe de uma terra natal, no interior de úteros de adobe, que cumprem seu ciclo e se releem em poemas.

A poesia, também no seu tempo, cuida de amadurecer um afeto pelo que é simples, gloriosamente simples, e sábio de coração. Depois de tanto vivido, que tempo é esse, de estudado amor? Que tempo é esse, nas mãos de Adri? É quando as palavras veem melhor.

Mariana Ianelli 

 

Sobre a autora:

Adri Aleixo é Poeta, Professora e mestranda pelo CEFET-MG em Literatura feminina. Participa das antologias Escriptonita, 30 anos do Psiu Poético, Contemporâneas, Planner 2018 Poesia de Ouro. Possui textos publicados em sites e revistas de todo país como Suplemento Literário de Minas Gerais, Caderno Pensar do Jornal Estado de Minas, Incomunidade, Literatura Br, Janelas em Rotação, Zona da Palavra, O Relevo e Jornal Rascunho. Publicou dois livros de poesia pela editora Patuá: Des.caminhos(2014) e Pés(2016) e aPlaquete Impublicáveis em 2017. Integrou, no ano de 2018 o Circuito Arte da Palavra pelo Sesc Nacional.