A arte de deter-se é uma aprendizagem indispensável, ainda que seja muitas vezes esquecida. Quem não sabe deter-se, não sabe viver. Como há uma qualificação da existência que provém da ação, assim há outra que provém do repouso.
A vida não pode ser apenas um lugar para consumir e devorar. O marinheiro, quando parte para a grande aventura oceânica, deve certamente poder contar com o motor da sua embarcação, deve confiar-se ao bom estado do casco, da vela, dos remos; mas deve obrigatoriamente levar uma âncora, porque uma barca não pode navegar continuamente.
Do mesmo modo, um excursionista, quando prepara o seu percurso, deve prever não só a atividade, mas também os tempos e os lugares de pausa que lhe permitirão restaurar-se para poder retomar o caminho.
É verdade que, tendencialmente, nas nossas sociedades modernas, os estilos de vida se assemelham à cidade que nunca dorme. O tempo parece sempre escasso, em relação ao programa que nos impomos.
Gostaríamos que o tempo se dilatasse, e fosse aquilo que não é. Como o coelho de “Alice no país das maravilhas”, estamos sempre atrasados. Mas atrasados em relação a quê, nem sequer nós verdadeiramente o sabemos.
Se hoje vivemos num mundo de evasão, é porque somos mulheres e homens que não sabem ancorar a vida. E a vida acaba por se um vazio a que nada responde.
In Avvenire
trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 24.05.2019 no SNPC