Sobre esta hora, Rilke foi mais longe que todos os evangelhos canônicos e disse que a mãe ao pé do sepulcro ficou “imóvel como o interior da pedra ficou imóvel”. Em qualquer outra hora, essa mãe poderia ser da glória, da esperança, dos remédios, dos milagres, do bom conselho, da boa morte. Nesta hora, não. Nesta hora, ela é da solidão, mãe das mães silenciosas que alguma vez em suas vidas também ficaram imóveis, cada uma com o nome do seu filho suspenso nos lábios, suportando duramente tudo o que jaz dentro da pedra junto com um filho, mundos possíveis, amigos, safras de milhares de momentos, elos ardentes no tempo, amores de Madalenas que nem saberão dessa perda, só talvez, de vez em quando, sintam um estranho aperto no peito, felicidades grandes e pequenas, o inimaginável, o imprevisível, poemas. Nesta hora, a mãe está desamparada. Ela, de quem se espera auxílio, compreensão, paz, misericórdia. Desamparada, ausente da música das coisas e das águas, sem pés e sem mãos, na desolação de todos os possíveis, ela, de quem se espera que console, que proteja, que socorra, que conceda graças. Que esperem. Que vigiem. Cuidem dessa mãe, agora desprotegida, desarvorada de cuidados. Cantem para ela, neste dia de pedra, como um carinho de filho, um caminho de flauta, o roçar de uma folha. Pensem nessa mãe imóvel.
Mariana Ianelli