«O sapato que fica bem a uma pessoa é pequeno para outra: não há uma receita de vida que vá bem para todos.» Esta consideração é de um dos pais da psicanálise, Carl Gustav Jung, no seu ensaio "O homem moderno à procura de uma alma". Encontro-a citada num semanário alemão que realiza um inquérito sobre modelos de vida na sociedade contemporânea.

Parte-se precisamente daquela observação para chegar a uma conclusão antitética: a homologação, favorecida pela comunicação de massa, impôs "receitas de vida" comuns. Não havia seguramente necessidade de um inquérito para saber que se avança em rebanho: basta examinar certa modas dos jovens e a sua linguagem (mas isto, mais ou menos, vale também para os adultos).

É também fácil compreender que Jung está errado e tem razão ao mesmo tempo. Está errado porque existe um tecido comum de humanidade, porque há valores permanentes universais, porque o bem e o mal nunca se devem anular segundo as situações e as conveniências. Mas tem fortemente razão porque nos remete para a singularidade da pessoa, melhor, de cada pessoa, para a identidade do indivíduo, para a multiplicidade das experiências.

É por isso que uma moral genuína deve ser firme nos princípios e apoiada em valores objetivos, mas deve ser respeitosa das consciências e capaz de incarnar com rigor, mas também com compreensão e misericórdia, esses princípios e valores na concretude da vida de cada um. Em suma, como dizia o escritor americano Oliver W. Holmes (1809-1894), «a vida é como pintar um quadro, não como fazer uma soma».

 

P. (Card.) Gianfranco Ravasi
In "Avvenire"
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 30.08.2016 no SNPC