«Depois disto, Jesus, sabendo que tudo estava agora cumprindo, a fim de que se cumprisse a Escritura, disse: “Tenho sede”» (João 19,28).
Quantos acontecimentos dramáticos são sintetizados no rápido advérbio «depois» na abertura do versículo: a angústia que antecede a captura de Jesus, o estranho juízo no qual a sua inocência não foi tida em consideração, a humilhação infligida pelos soldados, a dolorosíssima via da cruz e, para acabar, a própria cruz sobre a qual foi pregado. E «depois» de tudo isto, aquele grito - «tenho sede» - que continua a ecoar.
Noutras vezes, no mesmo Evangelho de João, Jesus foi ao encontro de quantos tinham sede, dizendo: «Quem beber da água que Eu lhe der, não terá mais sede pela eternidade» (4,13); ou: «Se alguém tenha sede, venha a mim!» (7,37).
Mas neste momento, do texto da Paixão é o próprio Jesus que afirma «tenho sede», e a sua declaração nós lemos no tempo presente, como que a explicar-nos que a sede de Jesus é atual e infinita. Aquele que tinha dirigido o seu convite àqueles que têm sede, é agora, Ele próprio, devorado pela sede.
De que tem sede, Jesus? Tem sede de ti, tem sede da tua fé, sede da tua presença, sede do teu sim. Tem sede da sede que tu podes ter de Deus, da falta de verdade que te habita, de um desejo de salvação que subsista em ti – ainda que seja um desejo oculto ou sepultado por feridas e escombros.
Jesus tem sede de dar-te a beber o seu amor.
In Avvenire