A vida não se compadece das tuas escolhas, dos teus desejos ou dos teus sonhos mais profundos. Acontece para além daquilo que tu és e daquilo que são os teus limites. Brinda-te com o que lhe convém, por muito que não te convenha a ti e aos teus timings.

A vida mostra-nos que não controlamos nada. Que o que é para nós acabará por nos perseguir até nos encontrar. Varrerá tudo e todos até que aprendas o que deves aprender. Obrigar-te-á a escutar a voz da tua alma e a ouvir correr o rio que passa no teu coração. Obrigar-te-á a ter tempo para o que ela quer e não para o que tu gostavas de ter ou ouvir. Deixar-te-á sem palavras, sem chão, sem alcance e vai turvar-te a capacidade de entendimento e de compreensão.

Noutras alturas vai surpreender-te com a bondade que devolveres aos outros e com os retornos que não imaginavas, algum dia, receber. Vai trazer-te pessoas boas, pessoas para amar, pessoas para aprender e pessoas para te dar colo. É nestes momentos que mais quererás agradecer-lhe.

Agradece-lhe também os momentos difíceis. Os tumultos que trouxeram aprendizagens e os que te fizeram duvidar de tudo e de ti. Tudo nos acontece por razões que só entenderemos se tivermos capacidade de curar por dentro. De olhar para o sangue que correu das feridas. As cicatrizes que vai deixar-te vão doer-te alguma coisa, mas vão trazer-te sentidos múltiplos e, quem sabe, fazer-te encontrar a tua missão neste mundo.

E que outra missão teremos senão a de aceitar a vida como ela for?

Nem sempre tudo como queres.

Nem sempre tudo como sonhaste.

Quase nada ao alcance do teu entendimento demasiado humano.

Mas sempre tudo com um propósito maior e mais alto.

Ainda vais a subir a montanha. Como é que queres ver o mar daí?

Ainda estás a nadar em águas profundas. Como é que queres ver a ilha daí?

Depois. Mais à frente. Um dia destes. O sentido que não encontras há de encontrar-te.

 

Marta Arrais

11.05.2024

in: imissio.net

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