Enzo Bianchi tem uma expressão radiosa sobre a beleza de Cristo. Diz ele: «A vida de Cristo era a vida boa, bela e beata [ou seja, feliz].» Esta vida conquistou os seus discípulos. Era de tal modo bela que os discípulos disseram que um homem assim só podia ser Deus. Conquistados, os cristãos correm para a conquistar.

 

Boa era aquela vida que passou pelo mundo fazendo o bem, acolhendo sempre, capaz de tudo dar: nem sequer o seu corpo teve para si, nem sequer conservou o seu sangue.

 

Bela, porque cheia de amigos, porque luminosa, por que pulsante de liberdade, porque nova, porque intensa e sem medos. Talvez porque todos nós, uns mais outros menos, sofremos de prisões. E o fascínio de Jesus, homem livre, ateia entusiasmos em cada um de nós. Não há estereótipos que se aguentem: se te fizeres leitor atento do Evangelho, não podes fugir ao encantamento da liberdade de Jesus. Liberdade a elevado preço.

 

Lê o Evangelho, respira a plenos pulmões a liberdade. Não a fixidez dos códigos, mas o vento que agita os cabelos dos viajantes.

 

A liberdade tem um segredo: o segredo é a porção de Deus que está em ti, que os verdadeiros mestres do espírito te convidam a descobrir e a adorar. Se fores fiel a esta porção de Deus, serás livre da escravidão dos outros e das coisas, das convenções exageradas, dos códigos sem alma, das expectativas dos outros, das imagens que os outros têm de ti. Contam para ti os olhos do teu Senhor, conta a pequena porção dele em ti (A. Casati).

 

E a sua vida era ditosa, feliz: era um rabino que tinha a alegria de viver, que gostava dos banquetes e das flores do campo, que sabia apreciar as belas pedras do templo e o perfume vertido sobre ele, o abraço das crianças e a carícia dos cabelos imbuídos de nardo da amiga.

 

Que significa obter a fé? É adquirir a beleza do viver, descobrir que é belo viver; é belo amar, criar, gerar, pôr a vida nas mãos de quem põe a sua vida nas tuas. É belo pertencer a Cristo e ao Evangelho, porque tudo tem um sentido positivo, tudo se encaminha para a vida e não para a morte, para um desfecho luminoso aqui e na eternidade. Para uma vida boa, bela e venturosa.

 

Ter vocação é adquirir a beleza do viver e reencantar a vida, recuperando a centralidade e a relevância do transcendente e do belo. Os crentes são chamados a conferir um novo encanto à existência, no rasto de «Cristo encantador» (Santo Ambrósio).

 

A beleza abre para o mistério e orienta para a decisão moral de aceitar o mistério. O bem, para atrair, para conservar a sua força de atração, deve igualmente ser belo. Porque é que devo praticar o bem e evitar o mal? Porque devo? Porque o coração me diz que, ao atuar assim, encontro a felicidade. O porque, está ligado, depende de um «sentir». O porque é estético.

 

Nestes tempos, já não basta recordar a autoridade de Deus, a sua diversidade ou a humildade e a fraqueza de Deus. Temos de redescobrir a beleza de Deus, propor um Deus de forma atraente: que aproxime, aglutine, mova, encante.

 

Perante a indiferença que nos rodeia, já não basta dizer que Deus é verdadeiro e bom, importa mostrar ainda que Deus é belo. A força que atrai o homem contemporâneo já não é a da constrição lógica da verdade, já não é a da constrição ética do bem, mas é a do esplendor do verdadeiro e do bom, isto é, da sua beleza.

 

Ermes Ronchi

In: Tu és Beleza, ed. Paulinas (Portugal)