«Alma minha, sai de ti e entra em Deus! Meu eu, imerge-te todo em Deus, imerge-te nas águas sem fundo! Se eu fujo de ti, Tu vens a mim. Se me perco, reencontro-te, meu Bem sobrenatural.»
É a última estrofe de uma poesia mística, composta no círculo de um original e até desconcertante mestre alemão medieval de espiritualidade, Eckhart (c. 1260-1327), tradicionalmente intitulada “Granum sinapsis”, “Grão de mostarda” ou também “grãozinho da infinita beleza de Deus”.
As palavras são simples, os pensamentos nítidos, o compromisso de fé é radical. Não queremos comentar estas frases, convidando cada leitor a deixá-las ressoar lentamente dentro de si.
Queremos apenas fazer uma consideração de ordem geral. Muitas vezes a própria educação religiosa conduz os crentes no caminho minimalista: basta observar os preceitos indispensáveis e seguir um são realismo moral.
O cristianismo é antes, por sua natureza, “total”, é um apelo a ser «perfeito como perfeito é o Pai que está nos céus». É, portanto, a superação da mera lógica “econômica” do cálculo dar-ter, fazer-obter.
O caminho do cristianismo, com efeito, é sobretudo o do amor que não conhece reservas, mas tem como meta a doação e como regra a abundância, até o abandono dos próprios interesses, o perder na certeza de encontrar.
A mística, então, não deveria ser tanto um estado excecional de alguns, mas uma estrada feliz tentada por todos os crentes, prontos a «imergir-se» totalmente em Deus, nas suas «águas sem fundo», saindo de si próprios.
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 04.09.2018 no SNPC