Jesus deu a sua vida por nós. Da sua forma, no seu tempo, mas numa oferta de si para todas as horas, para todas as formas e para todos os tempos. E é esta certeza que sustenta as nossas vidas. Nós somos consequência desta história, deste gesto, desta dádiva.
 
Aquele insulto que dirigiam a Jesus “Salvaste os outros, não podes salvar-te a ti mesmo” é, no fundo, a chave da sua própria vida. Exatamente porque numa dinâmica de amor, Jesus se dispõe a abraçar-nos, a sustentar as nossas vidas, as nossas humanidades, a dar a vida por nós, a amar-nos. Exatamente porque Ele se dispõe a amar-nos, Ele não pode salvar-se a si mesmo. Porque o que é próprio do amor é esse deixar de pensar em si. É esse abandono, é essa pobreza radical, é essa entrega, em que o outro é colocado no centro. Nós estamos no centro do gesto de Jesus. Da sua história de amor, da sua entrega.
 
Queridos cristãs e cristãos, vamos começar esta que é a semana que nos define, é a Semana Maior. Não há cristãos sem a recriação que acontece nesta semana. Não são só as liturgias mais longas, é a oportunidade de estarmos no ventre de Deus, no ventre de Deus e estarmos a ser gerados, recriados no Seu Amor e na Sua Misericórdia, colocando em Jesus os nossos olhos, aprendendo Dele a ser, o que significa ser, o que significa acreditar, o que significa amar, o que significa perdoar, o que significa aceitar e o que significa entregar-se por inteiro, entregar-se no Espírito, completamente nas mãos do Pai.
 
— Cardeal D. José Tolentino Mendonça (homilia Domingo de Ramos).
 
24 de março de 2024