O místico medieval Ricardo de São Vítor escreveu: «Onde está o amor, aí há um olhar». Não raro, este olhar que o amor nos requer dá-se no contexto de um sofrimento que teríamos absolutamente preferido não viver, mas da qual aprendemos alguma coisa – e alguma coisa de belíssimo – a que, sem ela, não teríamos chegado.
O mundo da dor é vasto e, quando menos o esperamos, encontramo-nos a habitá-lo. Os sentimentos que então irrompem são muitos: recusamo-nos a aceitar, entramos em revolta, em depressão; gostaríamos de fugir para longe; perguntamo-nos “porquê?”, “porquê precisamente a mim?”, “porquê precisamente agora?”; sentimo-nos impreparados para uma travessia muito árdua.
E, pelo menos neste último ponto, temos razão. O nosso tempo fez da doença, da velhice da deficiência um verdadeiro tabu. Vigora uma espécie de interdito em relação à vida vulnerável: cada um tem de viver estas situações em estreita solidão, sem grandes ajudas para aprofundar a sua experiência como um recurso, e não como uma fatalidade. No entanto, a verdade é bem diferente deste desígnio traçado pelo egoísmo ou pelo medo.
Escutava há alguns dias um pai falar do seu filho com síndrome de Down, Dizia, sem esconder a sua comoção: «Este meu filho é um membro importante da nossa família. É o nosso ponto de união. Fez de nós pessoas diferentes, mais humanas e atentas aos outros. Alargou a nossa capacidade de amar».
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 30.04.2019 no SNPC