O tema não é novo. Arrisco-me a dizer que chega a ser um assunto já demasiado mastigado. Que me perdoem os leitores mais assíduos. No entanto, falar do mesmo não parece estar a ajudar-nos a sair dos velhos ciclos, dos círculos viciados, das rodas do hamster do costume. Conhecemos bem o tema, mas continuamos reféns. Não sabemos o dia de amanhã. E, para nos lembrar desta verdade estonteante, a vida vai-nos deixando post-its em forma de lembretes. A doença de alguém querido. Um acidente inesperado. Um imprevisto que muda a vida a alguém. O rumo das coisas que, subitamente, se torce e nos faz rebentar as cordas que nos prendem aos dias.
Seguimos pela vida como se fosse nossa para sempre. Como se não estivéssemos cá de passagem. Como se o mundo nos pertencesse para esta e para as próximas gerações.
Já vai sendo tempo de aceitar a cruel e fria verdade: estamos cá emprestados. Não somos daqui. Temos uma oportunidade incrível para nos fazer valer a pena. Para fazer que os dias dos outros valham a pena também. E, o que me parece é que estamos a desperdiçar-nos, a desperdiçar a oportunidade e a beber de um copo que já não tem água alguma.
Estamos aqui de passagem e ninguém sabe o dia de amanhã. Ninguém sabe se cá continua ou se foi hoje a última vez que se abraçou o filho. Se o aceno do costume se repetirá depois. Se o telefonema volta a trazer a nossa voz. Se o trabalho será o mesmo. Se os nossos estarão cá. Se a vida nos troca as voltas.
Enquanto a vida não nos troca as voltas e os dias, aprendamos a viver como deve ser. Como quem sabe que o tempo é curto. Que tudo passa demasiado depressa e que, quando menos esperarmos, podemos já não estar cá para ver a festa que a vida pode ser.
Marta Arrais
In: imissio.net 01.06.22
Imagem: pexels.com