Se este período traz tanta novidade - que ainda estaremos a descobrir e a adaptar-nos nos próximos meses - há quatro linhas de orientação que permanecem desde sempre e para sempre.

 

 

Já todos percebemos que ao vírus lhe é indiferente se trabalhamos muito ou quase nada, se somos ricos ou pobres, se somos desta raça ou daquela, se vivemos num canto do planeta ou no outro. Ao convocar a experiência da fragilidade, da vulnerabilidade e do limite da vida humana, relembra-nos a todos que somos humanamente iguais: ao menos perante o vírus, perante a doença e perante a morte somos obrigados a reconhecê-lo. 

 

Entretanto, o contacto com o limite da vida remove e limpa uma montanha incrível de etiquetas, preconceitos, estatutos, divisões que nós acrescentamos em cima do que é verdadeiramente essencial. E por isso é que, no meio da desgraça, aparecem momentos de extremada beleza.

 

 

Quem está na ‘linha da frente’ - além da missão mais explícita que tenha - precisa de encontrar o equilíbrio dentro do desequilíbrio; precisa de cuidar de si (pelo menos os mínimos!) para poder continuar a cuidar dos outros; precisa de pedir ajuda e delegar o mais que for possível. 

 

Quem está na ‘linha do meio’ ou na ‘linha de trás’ precisa de assumir o seu papel: seja dando apoio àqueles que estão na ‘linha da frente’ (ou, pelo menos, evitando contribuir para o caos); seja cuidando dos seus, prevenindo e antecipando situações de emergência; seja preparando os próximos passos. Todos temos responsabilidade(s) a assumir.

 

 

Há uns anos na Suécia, após um atentado terrorista com vários mortos, os jornalistas encontraram-se com a princesa Vitória. Primeiro, ela proferiu umas palavras de circunstância - mas os olhos úmidos denunciavam o estado do seu coração. De seguida, um jornalista perguntou-lhe: “E como vamos superar isto?”. Ela respondeu logo: “Juntos”. Poderia ter ali desenvolvido um longo discurso mas decidiu-se pelo essencial. E naquele segundo ofereceu-nos uma das maiores lições de vida diante da adversidade.

 

Sejam quais forem as circunstâncias, sabemos que podemos fazer a nossa parte para estarmos juntos: olharmos uns pelos outros; ajudarmo-nos mutuamente (e para isso precisamos de saber também pedir ajuda!); não deixarmos ninguém para trás. Para assegurar isso ponhamos os olhos nos mais frágeis, necessitados, desfavorecidos. Façamos a parte que mais ninguém pode fazer por nós. Cada um à sua medida, cada à sua escala, cada um ao seu estilo.

 

 

Ainda não sabemos como será o futuro. Ninguém sabe. E o melhor é não esperar por ele. Pensar “quando tudo isto acabar…” é um pensamento perigoso. Entrar em ‘hibernação’ pode ser uma enorme tentação. Pôr a vida em ‘stand-by', é como se deixássemos de existir. E, na verdade, cada segundo é precioso. Em cada instante há milagres que podem acontecer. Nós acontecermos como milagre, por exemplo. Não no futuro. Não amanhã. Hoje. Agora. Encontremos as formas prediletas que o amor tem para se manifestar. 

 

O melhor futuro virá de um presente vivido no seu melhor.

 

In: Ver para além do olhar 24.03.2020