No meio dos dias difíceis e em que nos sentimos tão perdidos, o que nos salva? O que nos abrevia as fraquezas? As faltas de coragem? As tristezas e as dificuldades?

Salvam-nos os nossos. Os amigos de cada dia. As pessoas que dividem connosco as nossas angústias, mágoas, raivas de estimação. 

Salvam-nos os nossos. A nossa família-raiz que nos sustenta mesmo quando não sabemos para que colo correr. 

Salva-nos a oração. O colocar as mãos juntas e o rezar como quem está disponível para não compreender, não saber, não conseguir mais. O colocar no Céu as escuridões que nos diminuem a alegria. 

Salva-nos o vento a bater na cara num dia quente. 

Salva-nos o barulho do vinho a escorregar copo abaixo. 

Salva-nos a espuma do mar a perseguir os nossos pés ainda demasiado brancos de sol e de verão. 

Salva-nos o sorriso de quem nos abre a porta e nos deixa passar. De quem espera por nós. De quem prepara uma refeição a contar connosco. 

Salva-nos saber que somos amados. Que somos diferentes de todos os outros e que é nessa diferença que nos encontramos a meio caminho. A meio da ponte. 

Salva-nos saber que os dias maus também passam e que o sol brilhará, na mesma, indiferente às nossas amarguras. 

Salva-nos a fé. O querermos ser vaso para que a paz se cultive, também, a partir de nós. 

Salva-nos vivermos em comunidade. Em conjunto. Mesmo quando nos sentimos mais sozinhas. 

Salvam-nos os refúgios em forma de gente. Ou os refúgios lugares. O mar. A serra. O verde. A casa dos nossos. O café do costume. O restaurante de sempre. 

Salva-nos ter a certeza de que não vivemos (nem estaremos!) nunca sozinhos. Vamos acompanhados. O que vivemos é vivido (e partilhado) por mais almas. Por mais pessoas. Por mais silêncios. 

Nos dias que não são bons, sê bem. Faz o bem. O bem custa menos do que qualquer outra coisa.

Marta Arrais

In: imissio.net 18.05.22