No ar que hoje todos respiramos, surge várias vezes, logo afastado, o temor do fracasso. Com efeito, o objetivo que é proposto, e que ressoa como resultado determinante da felicidade e do êxito de uma vida, é o sucesso. E não só o sucesso é perseguido, como é considerado aquilo que salva uma existência. De outra maneira, a pessoa sente-se uma falhada, contada entre os descartados da sociedade.
Esta parece-me ser uma doença espiritual do nosso tempo, e muitos estão convictos de que o sucesso deve ser procurado como o desejo por excelência a inocular nas novas gerações. Não foi por acaso que Pier Paolo Pasolini escreveu: «Penso que é necessário educar as novas gerações para o valor da derrota. Para a sua gestão. Para a humanidade que dela brota. Para construir uma identidade capaz de percepcionar uma comunhão de destino, onde se pode falhar e recomeçar sem que o valor e a dignidade sejam atacados. Para que não se tornem conquistadores sociais, para que não passem sobre o corpo dos outros para chegar primeiro».
Também os cristãos, arrastados e habituados a procurar a aprovação dos outros para os seus comportamentos bons, caritativos e conformes ao Evangelho, perseguem uma espécie de êxito, de sucesso no mundo, e portanto tornaram-se incapazes de entrever a possibilidade da fraqueza e do consequente fracasso.
O drama que vivem nesta reviravolta epocal nas sociedades ocidentais é precisamente determinado por um falhanço da evangelização, da pastoral, da incapacidade de contrapor uma presença de minoria significativa diante da humanidade de hoje. E os seus prantos, as suas lamentações não são diferentes das do profeta Jeremias na cidade santa de Jerusalém. No entanto, declaram-se discípulos de um profeta (este, pelo menos, era-o!) que conheceu como resultado da sua vida um impiedoso fracasso após alguns anos de pregação, de vida comunitária, de ação benéfica entre as pessoas. Traído e abandonado, foi considerado nocivo ao bem do seu povo e blasfemador da autoridade religiosa, e portanto condenado à morte pelo poder imperial romano. Que fim!
Por isso o fracasso deve ser inscrito no itinerário da existência cristã, assim como, bem o sabemos, no da existência humana. A queda e o fracasso não podem ser removidos porque estão inscritos na “infermitas” das vidas humanas, na fragilidade que nos conduz a falhar. Pode chegar a hora da queda e, como dizia um padre do deserto, «no fracasso vai-se ao fundo, toca-se o fundo, mas no fundo descobre-se o fundamental».
A queda e o fracasso que nos esmagam por vezes são legíveis e motiváveis, outras vezes permanecem na obscuridade e são enigmáticos, sobretudo as crises interiores, existenciais, quando caímos no “nada” e deixamos de ser capazes de reencontrar o sentido das coisas e da vida. Então reina a noite, a treva, e também Deus é percepcionado como mudo e ausente pelo crente. Bernardo de Claraval, após uma vida repleta de sucessos, ao ponto de ter sido decisivo inspirador do papa, viveu uma crise terrível: deixou o mosteiro, retirou-se em solidão num bosque, e chegou a reconhecer «ter passado rente ao inferno, caindo e caindo». Mas depois daquela crise escreverá: «Ó desejável fraqueza!».
Não quero concluir estes pensamentos com a cereja da esperança, mas simplesmente despertar a consciência de que também o fracasso faz parte da vida e não deve ser afastado; seja então proclamado: «Feliz fraqueza»!
Enzo Bianchi |In Il blog di Enzo Bianchi
Publicado no SNPC em 07.05.2021
Imagem: pexels.com