A beleza, a verdadeira beleza, tem maneiras imprevisíveis de chegar até nós. Recordo a peça de teatro de Romeo Castellucci, intitulada “Sobre o conceito de rosto no Filho de Deus”, que vi há anos.
Era uma reflexão em torno a duas imagens, e a primeira era esta: um filho adulto que cuidava do pai, um pai idoso, com muitos problemas de saúde.
Para os espetadores, era também duro de ver, porque um dos problemas daquele velho era a incontinência fecal. Por isso, o filho tinha de estar sempre a limpá-lo. E muitas vezes parece que ele está prestes a ceder, que já não será capaz de o fazer, porque volta a acontecer sempre e sempre a mesma coisa.
Também nós nos damos conta do seu esforço extremo: como é extenuante apoiar as necessidades de um outro ser humano! Ao mesmo tempo, porém, com que delicadeza, com que transparente amor aquele filho se dobra sobre o pai e o sustém.
E há um momento belíssimo, no meio daquela luta interminável, em que os dois são aliados: agarram-se um ao outro, e, abraçados, choram. Pai e filho choram diante do irremediável da própria vida, sentindo que não conseguem resolver nada, a não ser amarem-se, a não ser perdoarem-se e acompanharem-se até ao fim.
Por muito que possa parecer paradoxal, um dia damo-nos conta que poucas coisas no mundo são tão importantes.
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 28.05.2019 no SNPC