Também se pode dizer que não? Que não fazemos? Que não vamos, que não queremos, que não temos tempo, que não estamos preparados ou que não temos vontade? Podemos dizer que não temos interesse? Que obrigadinha, mas fica para depois? Ou nesta sociedade quase perversa em que nos vemos mergulhados só há lugar para o sim? Para o “com certeza”; para o “vou já tratar disso”. Para o “conta comigo”.
Não te sentes cansado de fazer só o que te pedem? De só guardar vida para o que os outros precisam?
Vivemos com a ilusão de uma liberdade que não temos. Uma miragem bonita de uma vida em que mandamos nós, mas que é profundamente articulada por quem julga estar “acima” de nós. Somos reféns das vontades alheias e ignoramos aquilo de que precisamos para poder ficar bem em todas as fotografias. Deixamos de dormir. De comer. De beber quando temos sede. De respeitar as necessidades mais básicas. Sejam elas de carácter mais físico ou emocional/espiritual. Vale tudo mas parece-me que vivemos como se não valêssemos nada.
Vamos varrendo os nossos intuitos, desejos e intenções para debaixo do tapete e ficamos (de forma muito doente) à espera de fazer tudo o que houver para fazer.
A vida dedicada aos outros e ao bem comum não significa viver como se não existíssemos. Como se nem honrássemos a vida que nos foi dada.
Temos o direito de cuidar daquilo que somos. De dizer que não quando for demais. Quando nos ultrapassarem os limites ou quando nos desrespeitarem naquilo que é o mais sagrado da nossa essência como pessoas.
Viver é muito mais do que estudar, pagar contas, trabalhar e morrer. Para o caso de ainda não te teres apercebido, estás aqui para descobrir o teu propósito e, seja ele qual for, nunca estarás cá para ser menos do que muito feliz.
Por isso, quando puderes diz que não fazes. Deixa para depois. Esquece as aparências. Esquece o que vão pensar.
No final do dia é sempre sobre ti. Sobre os teus e sobre como a paz se pode construir a partir de se viver alinhado com o que se é.
Marta Arraes
In: imissio.net 29.06.22