Hoje ouvem-se muitos pais a dizer: «Não quero influenciar a orientação do meu filho; a escolha deverá estar toda nas suas mãos; só desejo que seja feliz». Falando assim, estes pais não se dão conta do problema que estão a criar.
O amor, na verdade, não é desejar que o outro seja apenas feliz. Como Santo Agostinho ensina, o amor é, antes, um “volo et uis”: «Quero que tu sejas».
Mais do que os estados que atravessamos e do que as estações que experimentamos, há aquilo que nós somos. A arte de ser deve prevalecer: para além das horas solares ou noturnas, dos processos de florescimento ou dos impasses, da dança descendente da penumbra ou do aéreo desenho do júbilo.
Não podemos desejar que alguém seja só feliz. Isso equivale a coartar a vida e a fantasiar perigosamente sobre ela. A nós incumbe estimular aqueles que amamos à corajosa aceitação da vida, naquilo que ela tem de plenitude, mas também de vazio e até de desilusão.
A quanta sabedoria, com efeito, nós acedemos unicamente através desta ponte de corda que nos aparece suspensa no abismo.
Nem sempre a sombra é o contrário da luz, assim como o árduo esforço de viver não é o contrário da felicidade. São etapas do mesmo rio que corre.
Há lágrimas que nos consolam bem mais do que muitos sorrisos. E há dores que nos introduzem numa experiência de gestação que não acreditávamos possível.
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge martins
Publicado em 21.05.2019