É nos dito e repetido que o tempo bem aproveitado é um contínuo ininterrupto, que devemos estender e levar até ao limite.
A maior parte de nós vive nesta fronteira, a um ritmo obstinado e insatisfeito, no fundo desejando que a vida seja aquilo que não é: que as horas sejam mais e mais longas, que a noite nunca durma, que nos fins de semana seja possível recuperar tudo aquilo que nos é adiado.
Quantas vezes nos surpreendemos a subscrever automaticamente o lugar comum «gostava de um dia de quarenta e oito horas», ou «gostava de um mês de quarenta dias».
Duvido que seja disto que precisemos. Bastaria atentar nos efeitos colaterais das nossas vidas sobrecarregadas, naquilo que deixamos para trás, naquilo que omitimos de dizer ou de seguir.
Sem nos darmos conta, na medida em que a nossa atividade atinge picos elevadíssimos, as nossas casas parecem-se cada vez mais com habitações vazias, despojadas de uma presença autêntica; a língua que falamos torna-nos incompreensível, uma língua que no mundo à nossa volta ninguém sabe falar; e, apesar de habitarmos a mesma geografia de sempre, é como se inesperadamente ela deixasse de ser a nossa pátria, e se transformasse numa espécie de terra de ninguém.
A sabedoria está em aceitar que, na realidade, o tempo é breve, e por isso temos de o viver da maneira o mais equilibrado possível.
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 01.06.2019 no SNPC