Maria, senhora do Advento, ensina-nos o que significa estar grávida de Deus. Ensina-nos essa arte grandiosa e acessível de gerar o divino, de despertá-lo lentamente em cada coração, e como uma luz necessária quando a noite avança ou o vazio se torna pesado.

Ensina-nos a abraçar com esperança a vulnerabilidade, tanto a alheia quanto a nossa. Ensina-nos a nos libertar das idealizações e de seus enganos.

Ensina-nos que a fidelidade ao Onipotente se realiza no cuidado daquilo que é totalmente frágil e que as grandes viagens dependem dos pequenos passos. Ensina-nos a acolher aquilo que vem de Deus e que não entendemos, ou só entenderemos depois.

Ensina-nos a saber agradecer (e, portanto, a esclarecer, a devolver limpidez), mesmo quando isso nos custa.

A agradecer pelos dias fáceis e pelos dias sombrios; a agradecer por aquilo que é evidente e por aquilo que está encoberto; pelo superficial e pelo vertical; pela mansidão da brisa e pelo ímpeto do vento.

A agradecer pela força e pelo fracasso; por aquilo que concluímos e por aquilo que nos parece inacabado, por aquilo que chegamos a ver por completo ou apenas disperso em pobres migalhas.

Porque, a seu modo, cada coisa nos integra naquela espiral que pode ser a vida, uma espiral que se amplia cada vez mais.

Ensina-nos a descobrir em nós a capacidade de multiplicar a alegria; de mediar a esperança que mostra caminhos sempre novos; de facilitar a graça que potencializa os novos inícios.

Dom José Tolentino Mendonça

publicado por Avvenire, 08-12-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.