Tempo para sentir o que o corpo quer e diz.

Tempo para andar mais devagar. Para abrandar.

Tempo para respirar fundo.

Tempo para ver melhor.

 

Para fechar os olhos mais vezes e conversar com a escuridão clara de os ter fechados.

 

Tempo para curar.

Para amar melhor e começar por dentro. Por mim.

Para devolver na medida do que foi dado e acrescentar um pouco mais.

Fazer do nada o tudo.

E do tudo o quase nada.

 

Tempo para meditar. Para encher o peito de ar e acreditar.

Para escrever uma carta e para acreditar nas palavras que ali nascerem.

Tempo para ver o que precisa de ser visto. Para ler o que precisa de ser lido. Para tirar os dourados do que precisa de ser observado sem cores nem artifícios.

Tempo para não ir. Para não fazer. Para não arriscar. Para não dizer.

Tempo para ficar calado. Para escolher o silêncio e a paz.

 

Tempo para adormecer de consciência tranquila.

Para perceber que tudo é o que tem de ser.

Que tudo vem quando é o tempo e que tudo o que sabemos é o que precisamos de saber.

 

Tempo para guardar a alma das coisas que a fazem pequena.

Para a preparar para as coisas pequenas que a fazem grande.

Tempo para ver tudo como se fosse a primeira vez.

 

Marta Arrais

In: imissio.net 24.01.24