Tenacidade

s.f. Qualidade do que adere fortemente a uma superfície. 

O que leva alguém a arriscar a sua vida para subir o Evereste? Ou escalar a solo (sem corda) uma parede de 1000 metros? Será simplesmente pela razão que George Mallory terá dito ao New York Times em 1923 - «Porque está lá.»- ? Penso noutra razão. Tenacidade.

Entre os significados de tenacidade encontra-se esta qualidade do que adere fortemente a uma superfície, como a essencial para escalar a solo qualquer parede. Mas a aderência maior é a interior diante da escolha de se ter colocado numa situação de vida ou morte dependente dessa aderência. 

Por outro lado, a tenacidade é também uma grande persistência, perseverança e afinco, como quem escala o Evereste sabendo que ao chegar ao cume faz uma experiência de unidade com a montanha como nunca antes. Mas foi preciso a persistência para vencer a resistência de cada passo, perseverar diante da gradual dificuldade em respirar e o afinco de manter todo o olhar e vontade fixo no cume. Também a vida está em risco.

Parece haver uma ligação entre tenacidade e a atitude de fazer tudo como se a nossa vida dependesse disso. É uma qualidade que raramente entra no horizonte de tudo o que fazemos no quotidiano, mas, talvez, por não vivermos tudo como se a nossa vida dependesse disso.

Podemos criticar, procrastinar, viver distraídos, e passar toda uma vida sem sair realmente do sofá, e arriscar viver fora da nossa zona de conforto. Mas será que vivemos realmente quando a vida não está em risco?

Uma vida plena atinge-se com a totalidade daquilo que somos. 
O que ousa escalar procura-a com o corpo.
O que ousa escrever procura-a com a mente.
O que ousa servir procura-a com o espírito.

Tenacidade é a qualidade de viver uma vida plena com o corpo-mente-espírito que nos caracteriza. É o que permite fazer dos atos simples, arriscados, mas totalmente vindos de um dom-de-si, gestos da grandeza que o ser humano é chamado a ser.

«A coisa mais difícil é a decisão de agir, o resto é, meramente, tenacidade.» (Amelia Earhart, primeira mulher a sobrevoar sozinha o oceano Atlântico. Desapareceu em Julho de 1937)

Mas não será a tenacidade uma decisão em ato? 

Miguel Oliveira Panão

In. imissio.net 04.06.