É paradoxal e sugestivo, e como poderia não o ser?, o modo como os Evangelhos narram a ressurreição. Desconcerta que nos discípulos não haja o crer imediato, que não tomem em consideração as provas irrefutáveis apresentadas, ou não considerem como inabaláveis as primeiras testemunhas.

A notícia da ressurreição é vivida antes de tudo com suspeita, desconfiança, temor, distância. A frase de Tomé, «se não vir, não acredito», é, no fundo, a posição de todos.

A notícia circulava em surdina, como uma hipótese inquietante que ainda precisava de ser verificada. Já tinha certamente chegado aos ouvidos dos dois discípulos de Emaús, que ainda assim estavam prontos a deitar tudo para trás das costas e a esquecer apressadamente aquela história.

O anúncio da ressurreição, todavia, cresce. Mesmo sem acreditar nas mulheres, Pedro e João correm ao sepulcro. E João vê o silêncio dos sinais e retira-se. Os dois discípulos em fuga reconhecem Jesus numa estalagem à beira da estrada e regressam a Jerusalém. O Ressuscitado em pessoa vai ao encontro de Pedro e dos discípulos, atravessando as portas que eles tinham fechado. E Jesus estende a mão às dúvidas de Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos».

A pouco e pouco, é em torno àquilo que primeiro tinham declarado impossível, que os discípulos de Jesus se recolhem e vivem.

D. José Tolentino Mendonça 
In Avvenire 
Trad.: Rui Jorge Martins 
Publicado em 23.04.2019 no SNPC