“Todos os publicanos e pecadores aproximavam-se dele para ouvi-lo” (Lc 15,1)

 

 

“Jesus em más companhias”: Esse título expressa de maneira exata o que foi e o que significou a vida de Jesus desde o nascimento até a morte. E ao longo de toda a vida pública viveu continuamente rodeado de pessoas marginalizadas: pobres, pecadores, prostitutas, publicanos, doentes...

 

Essa conduta de Jesus é descrita nos três versículos introdutórios às três parábolas dos perdidos: Jesus está rodeado pelos marginalizados e excluídos da sociedade, “os cobradores de impostos e os pecadores”, que se aproximam dele para escutá-lo. Se estas pessoas se aproximam  é porque junto a Ele encontram compreensão, compaixão, respeito, acolhida... e, jamais escutam uma reprovação, nem sequer uma desconfiança ou suspeita.

 

As três parábolas adquirem o caráter de defesa, feita pelo próprio Jesus, do seu modo de vida, do seu comportamento, particularmente do seu relacionamento com os extraviados e excluídos. O Evangelho que Jesus proclama com palavras e ações é a Boa Nova da salvação para os perdidos; e é, ao mesmo tempo, apelo à conversão dirigido aos que se consideravam “justos”, mas se fechavam ao amor e ao perdão.


 

As três parábolas da misericórdia são, na verdade, as parábolas dos perdidos. O que Jesus quis proclamar ao contá-las foi que o amor, a misericórdia, o perdão e a comunhão são oferecidas por Deus aos “perdidos”. As três parábolas expressam, com uma força insuperável, dois temas particularmente acentuados por Lucas e vinculados entre si: o tema da misericórdia e do perdão oferecidos por Deus a todos os “perdidos”, e o tema da alegria de Deus quando os perdidos são encontrados.

 

O que escandaliza os destinatários das três parábolas contadas por Jesus, que se consideravam justos e servidores exemplares de Deus, não é propriamente a conduta dos pecadores, mas a conduta de Jesus com relação a eles; Ele permite que os pecadores se aproximem dele, recebe-os de coração aberto, toma a iniciativa de ir ao encontro deles e senta-se com eles à mesma mesa.

 

Os escribas e fariseus não podiam suportar que Jesus proclamasse que Deus acolhe e perdoa incondicionalmente a todos, que tem um carinho especial, um amor de predileção pelos perdidos; um Deus que vai ao encontro dos perdidos e que transborda de alegria quando os encontra.

 

Esse Deus “novo” anunciado por Jesus era um Deus “desconcertante”, “escandaloso”, totalmente incompatível com o “deus” legalista dos escribas e fariseus. Por isso, a pregação e o comportamento de Jesus são intoleráveis para eles.

 

O comportamento de Jesus é uma “parábola viva” do comportamento de Deus com os pecadores. Ao contar as três parábolas, Ele explica e justifica o modo de proceder do Deus Pai-Mãe. As três parábolas nos revelam os sentimentos e as ações do “Abbá de Jesus” que não pode passar sem  os filhos perdidos. Por isso os busca até que os encontra. E os acolhe incondicionalmente quando retornam: sem reprovar-lhes nada, sem pedir-lhes explicações, sem ameaças, sem juízo nem castigo...

 

A trama das três parábolas desvela e revela a presença de Deus onde nunca imaginávamos encontrá-Lo: junto aos rejeitados e afastados; Ele os acompanhando com sua presença misericordiosa, aproxima-se deles e os convida à festa do seu perdão, libertando-os da sua exclusão e isolamento. Mais ainda, quando Deus encontra os extraviados, exulta de alegria, carrega-os em seus ombros, convoca todos para poderem se alegrar com Ele, e organiza um banquete festivo.

 

As três parábolas condensam toda a história de nossa salvação. Elas contêm a quinta-essência do Evangelho do Reino do Pai proclamado por Jesus, da história do amor de Deus para com a humanidade. Justamente por serem o Evangelho condensado, estas parábolas contadas por Jesus devem ser incessantemente ouvidas e contempladas por todos nós. E depois de contempladas e experimentadas, devemos contá-las, proclamá-las e testemunhá-las, sempre de novo, a todos os homens e mulheres que Deus ama.

 

Elas são as parábolas da nossa vida, da nossa história, de cada um dos nossos caminhos. Elas são, enfim, as parábolas da nossa origem e do nosso destino. Assim é o Deus em quem nós cremos. Não vale a pena parecer-se com o Deus de Jesus?

 

Esta é a experiência de Deus que Jesus comunica em suas parábolas mais comovedoras, e a que inspira toda sua trajetória profética. Certamente, as “três parábolas dos perdidos” são as mais belas, as que Jesus mais trabalhou, e provavelmente as que mais repetiu, para contagiar as pessoas com a experiência de um Deus compassivo.

 

Jesus viveu e comunicou uma experiência sadia de Deus: Ele não projetou sobre o rosto de Deus, medo, juizos, fantasmas… que todas as religiões costumam projetar em Deus. Jesus não  experimenta Deus por cima ou à margem da história humana do sofrimento e da exclusão. Ele sente e vive a realidade insondável de Deus como um mistério de compaixão. O que define a Deus não é o poder senão suas entranhas maternais de Pai.

A compaixão é o modo de ser de Deus, sua maneira de olhar o mundo e de reagir diante de suas criaturas.

 

Jesus repete sempre: “sede compassivos como vosso Pai do céu é compassivo”, e introduz um horizonte totalmente novo na história da humanidade. Jesus não nega a santidade de Deus, mas deixa claro que, o que qualifica e define o Deus santo é sua compaixão; Deus é grande, é santo, não só conosco; Ele não porque rejeita os pagãos, os pecadores e os impuros, precisamente porque em seu coração santo cabem todos. Deus não exclui ninguém; todo aquele que dele se aproxima será acolhido, Deus ama sem excluir ninguém. 

 

A compaixão de Deus é descrita por Jesus não simplesmente para nos mostrar como Deus está pronto a sentir por nós ou a perdoar nossos pecados e nos oferecer uma vida nova e felicidade, mas também a nos convidar a nos assemelhar a Deus e a mostrar a outros a mesma compaixão que Ele tem por nós. Vemos agora que as mãos que perdoam, consolam, curam e oferecem uma refeição festiva tem de ser as nossas.

 

O Deus da compaixão é o Deus que se oferece a si mesmo como referência e modelo para todo o comportamento humano. É essa a pedagogia do Deus Pai-Mãe: ensinar a ver as coisas não a partir do moralismo da perfeição, mas da compaixão. À luz da parábola de Jesus, pode-se chamar humano somente quem é compassivo, indulgente, misericordioso. Quem tem a coragem de aceitar a própria fragilidade e fracasso.

 

Texto bíblico:  Lc 15,1-31

 

Na oração:  O Deus no qual eu creio é um PAI-MÃE que, desde o início da Criação, tem estendido seus braços numa bênção compassiva, nunca se impondo a quem quer que seja, sempre esperando, nunca deixando cair seus braços em desespero, sempre aguardando que seus filhos voltem e deixem seus braços cansados repousar sobre os seus ombros.

 - Contemplar cada um dos GESTOS do “amor louco”  de Deus por nós.

 

Pedir a graça:  pedir a graça de sentir sobre nossos ombros as mãos  paternas/maternas de Deus que nos dão segurança.

 

Ser pai-mãe: deixar transparecer em nós os traços paternos e maternos de Deus; as mãos que perdoam, consolam, curam, acariciam e oferecem uma refeição festiva devem ser as minhas mãos; contemplar minhas mãos: foram dadas para serem estendidas no direção dos outros, para oferecer a bênção, para socorrer, ajudar...

 

 

Pe. Adroaldo Palaoro sj

Coordenador do Centro de Espiritualidade Inaciana – CEI

11.09.2013