Há uma reclamação generalizada, e justa, em favor da educação. Educação tem a ver com o fato de que não nascemos prontos, pelo contrário, somos, desde sempre, inacabados e é desse vazio que a educação se ocupa. Distraídos da tarefa da educação, permaneceremos cativos da pressão pela sobrevivência a mais imediata e dos interesses de curtíssimo alcance.
Educamo-nos a partir de um acervo de referências, resultado da experiência histórica da humanidade. Formamos novos físicos, por exemplo, a partir do conhecimento físico consolidado, o que favorece, ao invés de impedir, a constante expansão deste conhecimento. Nas áreas científicas, ciências humanas incluídas, o processo é mais ou menos este, guardadas as diferenças de campo a campo. Entretanto, se as ciências ocupam, e devem ocupar, parte do espaço aberto a ser cultivado pela educação, não é desejável reservá-lo apenas a elas. Esquecer dos outros campos simbólicos – artes, filosofia, religião, mitologia – e das possibilidades que lhes são inerentes é mera e injustificada mutilação. Porém, falando de uma forma mais geral, tais campos são, hoje, esvaziados de sua dimensão objetiva e perversamente transferidos para o domínio privado. Confinados aí, perdem qualquer possibilidade de atuar como oportunidades e instrumentos de formação. Imaginar, entretanto, que a tarefa da formação humana possa ser conduzida à revelia desses campos é malhar em ferro frio. É hora, acredito, de voltarmos nossa atenção para o material pertencente a cada um dos campos acima mencionados. Talvez, assim, nos sentíssemos menos solitários diante dos enigmas, os tristes e os alegres, que a existência não cessa de nos propor.
Este, a meu ver, é um ponto a ser discutido para que a reclamação, inteiramente justa, por mais educação possa se aproximar um pouco mais do objetivo proposto. E vale a pena ressaltar que, aqui e ali, começam a proliferar instâncias de formação dispostas a aproximar a demanda tão contemporânea por formação da multiplicidade dos recursos simbólicos forjados ao longo da história humana. Não me parece exagero lembrar que é nessa fronteira que também o Centro Loyola, modesta mas persistentemente, procura atuar.
Para pensar na quinzena:
“Os homens nascem uns para os outros; educa-os, padece-os” (Marco Aurélio)
Obs. Não dá para não indicar um livro sobre educação, de onde, aliás, retirei a frase de Marco Aurélio: Savater, Fernando, O valor de educar, publicado pela Editora Martins Fontes.
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
01.10.2012