De algumas palavras parece que só conhecemos aquilo a que se opõem. Paz talvez seja uma dessas palavras. Sabemos o que é a guerra, seja no sentido literal, seja nas múltiplas situações onde o desentendimento, a discordância e a contraposição ultrapassam qualquer possibilidade de pactuação. Não que o desentendimento ou a contraposição devam ser evitados a qualquer custo, de modo algum, ou que a paz seja necessariamente a meta a ser buscada. Uma certa dimensão conflitiva faz parte de nossa humanidade e das formas que assumem as comunidades humanas.
O que pretendo é que conversemos um pouco sobre a experiência da paz, não quando ela se ausenta, isso já sabemos, mas o que a caracteriza, que traços traz consigo quando ela se apresenta. Penso que o seu primeiro e mais fundamental componente é o sentimento de pertencimento, o reconhecimento de que há em nós, no que temos de mais íntimo, algo que nos ultrapassa. Outra experiência que está associada ao sentimento de paz é a amorosidade, essa disposição que faz de nós jardineiros cuidadosos, conosco, com as outras pessoas e como mundo. E talvez a paz esteja associada também à gratidão, esse sinal de que nos lembramos de quando fomos socorridos ou presenteados além do seria justo esperar. Assim, pertencer, então, parece ser um movimento incessante entre o que recebemos do que a nós excede e o que somos capazes de levar adiante.
Talvez a paz, a paz enquanto experiência humana, decorra desse movimento.
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
28.06.2021