Vivemos para agradar. Para fingir. Para fazer de conta. Moldamo-nos para pertencer e para nos convencermos a nós (e aos outros) que vamos na direção oposta do vento que nos sopra dentro do coração. É mais fácil ser-se o que não se é. Viver uma vida que alguém desenhou, pensou ou perspetivou. E enquanto nos vamos adaptando às expectativas alheias, já nem sabemos quem somos. Perdemo-nos da nossa raiz e da luz que, em vez de brilhar, só conseguirá apagar-se. 

Quando nos perguntam de que é que precisamos, não sabemos responder. Abrimos os olhos e a vida de espanto e de dor. Sabemos lá do que precisamos. Sabemos lá o que queremos. Fomos andando para a frente sem saber se era por aí o caminho. E é assim que, um dia, damos por nós a precisar de voltar para trás. Damos por nós a seguir uma urgência de compreender o que ficou por desatar, por viver, por descobrir.

A nossa vida não é de ninguém. Não pertence a um grupo. A uma rede social. A uma pessoa ou a vários. Não se restringe a um trabalho, a uma profissão ou a uma vocação. A nossa vida é única. Como um fio de água que faz o rio crescer, mas que ninguém vê. A vida rasgou-nos para nos construir naquilo que precisamos de ser. E o tempo passa demasiado depressa para vivermos para as aparências. Para as necessidades dos amigos, da família, dos maridos, das mulheres, dos namorados ou das namoradas. Ninguém te pode explicar como é que (te) vais fazer feliz. Como é que podes aproveitar o teu caminho para deixar marca. 

Essa responsabilidade é tua. Esse presente foi-te dado a ti.

Não passes a bola a mais ninguém.

Viver é agora. E aqui.

Viver é o que tu quiseres. É aquilo em que acreditas. É a pessoa que amas. Seja ela quem for.

Viver é ser capaz de fazer o que só te cabe a ti.

Viver é contigo. E só podes ser tu.

Marta Arrais

In: imissio.net 19.04.23