Mapas, esses mapas singulares que são os existenciais, são decisivos porque o que realmente importa, à maneira dos tesouros, quase sempre está mais do que escondido.  É a existência que desconhecemos, é a singular estranheza da vida que, desde sempre, tem dado origem a mapas. Se os mapas nos ajudam, são eles que, ao mesmo tempo, nos fazem reconhecer a supremacia do território sobre o qual se debruçam, permanecendo como uma indicação que conta com a porção de aventura que cabe a cada um de nós.   

 

Mapas estão nas histórias, ou seja, nos mitos, na poesia, nos romances, nas artes, na religião e, às vezes, na filosofia. O que vem desses campos é um ensinamento que respeita a incerteza de que somos feitos, a fragilidade que compartilhamos e as esperanças presentes nos nossos corações. Daí sua perenidade, daí a sua onipresença. Mas o acolhimento da incerteza, da fragilidade e da esperança, que lembram, cada uma a seu modo, a nossa finitude, exige dos humanos e das culturas a que pertencem uma disposição para a coragem – ou para o desejo - que nem sempre está à mão. Por isso, precisamos de histórias.  

 

É disso que as histórias falam, da inevitável e, muitas vezes, involuntária partida de um estado de conforto, da imersão num deserto que apenas muito lentamente aprendemos a ver como uma travessia e dos atos de enfrentamento que de nós são esperados. É preciso lembrar que tudo isso se passa à meia luz e na infinita diversidade que nos constitui a todos?

 

Histórias espelham a vida, permitem que nos reconheçamos, geram significado e beleza. Sem histórias, sem acesso ao acervo simbólico que elas guardam, ficamos privados dos instrumentos que permitem a chegada a nós mesmos.  

 

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola