Quem me leva os meus fantasmas
Maria Bethânia
De que serve ter o mapa se o fim está traçado,
De que serve a terra à vista se o barco está parado,
De que serve ter a chave se a porta está aberta,
Pra que servem as palavras se a casa está deserta?
Aquele era o tempo em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam
E eu via que o céu me nascia dos dedos
E a Ursa Maior eram ferros acesos
Marinheiros perdidos em portos distantes
Em bares escondidos em sonhos gigantes
E a cidade vazia da cor do asfalto
E alguém me pedia que cantasse mais alto
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Aquele era o tempo em que as sombras se abriam
Em que homens negavam o que outros erguiam
E eu bebia da vida em goles pequenos,
Tropeçava no riso, abraçava de menos.
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala nem a falha no muro
E alguém me gritava com voz de profeta
Que o caminho se faz entre o alvo e a seta.
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde é a estrada
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem leva?
A percepção de mundo é o fio condutor da nossa sensibilidade. Há momentos em que os fios se rompem e fechamos os corações, mentes, olhares e mãos.
Onde é a estrada? Quem me leva os meus fantasmas? Quem leva?
Olhamos e não percebemos que de costas voltadas não se vê o futuro, nem a falha no muro.
Não acolhemos a dor do outro. A indiferença é um abismo.
O que nos falta?
Amor!
O amor é a resposta não importa a pergunta!
E o céu nasce da sensibilidade, brota dos dedos e das palavras que voam.
"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém.
Provavelmente a minha própria vida."
(Clarice Lispector)
Marcelle Durães
Equipe do Site