Autor: Luiz Felipe Pondé
Editora Benvirá 2011
Livros que associem agudeza e simplicidade são, como sabemos, raros. Quando o assunto abordado é, frequentemente, vítima da hermenêutica do bandido e do mocinho, como costuma ser o caso da religião, um volume com estas características deve ser celebrado. É o caso do presente livro.
Depois de passar com rapidez, mas não sem acuidade, pela história da Igreja Católica, Pondé enumera os medos católicos ( é dele a expressão), quase sempre decorrentes da progressiva secularização de nossa sociedade. À exposição desse elenco de medos, segue-se a proposta romana do seu enfrentamento. Sem qualquer cerimônia, as origens das feridas são expostas: os avanços da ciência, o movimento gay, a emancipação feminina e, mesmo, as dificuldade criadas por movimentos internos à Igreja como a teologia da libertação ou a crítica associada à teologia liberal. E a mesma atenção é dedicada aos esforços de Roma para a cura da dose de sofrimento trazida por esta mesma modernidade. Dois méritos saltam à vista. Primeiro: modernidade e tradição católica são examinadas à luz de sua sensibilidade para com os dramas permanentemente associados à condição humana. Segundo: é ressaltado, ao longo do livro, o pertencimento do catolicismo a uma tradição intelectual construída à medida que a civilização ocidental se consolidava.
Ao ver o catolicismo também como um campo de idéias, Pondé indica uma direção mais conseqüente e rigorosa para o debate sobre a religião, distanciada, em igual medida, da ansiedade dos crentes ou das bravatas dos ateus.
Ricardo Fenati
15.04.2012